Atlântico nos blogues
Já não há crianças...
Quando me sinto um idiota (no sentido depreciativo do termo), corro para casa, ligo a televisão e fico duas horas a recuperar. Nada como uma boa dose de “Morangos com Açúcar” para me considerar um génio nacional, uma mente superior inalcançável. De tanta parvoíce pegada, de tanta piroseira, de tanta cor berrante, de tanto português arranhado, de tanta desconstrução social em nome de interesses comerciais e algumas mentes captas, transformo-me num intelectual inigualável, pensador mor.
O artigo de Maria Filomena Mónica na imprescindível Atlântico deste mês, recordou-me toda esta rotina de xanax televisivo. Fui compra-la ao quiosque de sempre, onde se encontra lado a lado com a Super Pop, levei-a para o café e li-a ao som das conversas de uma mesa ocupada por adolescentes. Nada mais apropriado! Enquanto folheava a revista, descortinava o debate aceso que se desenrolava a escassos metros. Namoros, mais namoros e ainda namoros, com uma pitada de sexo e noites de bebedeiras e, a acompanhar, pormenores pouco normais de hábitos privados. Centrei-me o mais que pude nas palavras escritas, como se as orais fossem a banda sonora perfeita.
A privação da idade da inocência que se impõe aos mais novos, a qual deveríamos antes cultivar com todos os esforços necessários, é de facto a suma de todos os males provenientes do visionamento daquela telenovela. Nela encontramos a idolatria, a confusão sistemática entre realidade e ficção e os estereótipos mais comuns entre ricos e pobres, inteligentes e menos inteligentes, público e privado, etc. Tudo, de forma sucinta, na última Atlântico. Ao vivo e a cores, talvez naquela mesa de café com adolescentes.
E não se esqueçam: não dêem xanax aos vossos filhos que o efeito pode ser perverso. Apliquem-se antes a formar a “elite” do futuro com o “olhar inocente de uma criança”.
SA, no blogue É a hora.
Paulo Pinto Mascarenhas
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19:29
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