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domingo, dezembro 31, 2006

 

Deixem falar o mestre!

Essa ambivalência é uma constante nos teus textos. Mesmo quando crucificas Portugal, vê-se que amas profundamente o rectângulo que nos coube em sorte.

Como tu amas, pá. Como todos os portugueses amam, acho eu. O que mostra o amor é o falar de. Obsessivamente. Alguém diz: “Não gosto de grelos, não gosto de grelos, não gosto de grelos.” Todo o dia a falar de grelos... Hmmm, há qualquer coisa ali com os grelos.

Obrigado ao José Mário Silva pela publicação da entrevista.

Bernardo Pires de Lima | 19:50 | 1 comments

 

O que de certeza acontecerá em 2007 e por aí fora

A reacção da al-Qaeda à execução de Saddam foi imediata. Al Zawahiri, nº2 de bin Laden, já veio dar seguimento aos últimos apelos do ditador iraquiano à guerra santa na Palestina, instigando os palestinianos a insurgirem-se contra aquele a quem apelidou de "traidor secularista": Abu Mazen. Surpresa? Nenhuma. Na sua (só sua?) concepção do Islão, este nunca pode ser implantado pela via democrática, porque democracia é o oposto dele. Por outras palavras, o "seu Islão" (será mesmo só dele? Só partilhado por muçulmanos radicais?) é totalitário, fascista, ditatorial. Temos de nos capacitar de uma vez por todas que não é apenas o Ocidente o alvo da al-Qaeda. Todos aqueles Estados de maioria muçulmana que procedam a tentativas reformistas de secularização, defesa dos direitos das mulheres ou introdução de processos democráticos institucionais, já foram e serão alvos do terrorismo fundamentalista islâmico (Marrocos, Turquia, Iraque, Afeganistão, etc).
Não é a paz que lhes interessa na Palestina. É o caos global para mais facilmente se entranharem nas estruturas - mais ou menos fortes - dos Estados. Este é o projecto. Totalitário. Contra tudo e contra todos. E veio para ficar.

Bernardo Pires de Lima | 18:16 | 3 comments

 

Nabucodonosor

Consta que um dos carrascos de Saddam terá dançado à volta do corpo pendurado do ex-ditador. Não referem se com ou sem capuz o que, para efeitos de avaliação estética e cómica, teria o seu peso. Enfim, deselegâncias babilónicas. O que me motiva a escrever sobre as imagens dos últimos instantes de Saddam é outra coisa e essa coisa começa longe.

Uma das personagens de Proust era incapaz de se apiedar dos que lhe eram próximos e, ao mesmo tempo, mostrava-se muito vulnerável ao relato de padecimentos alheios e distantes. A sua sensibilidade, impenetrável aos golpes do real e às misérias quotidianas e concretas que a rodeavam, apenas respondia a estímulos abstractos que lhe chegavam através de códigos narrativos. Eu próprio não sei se ainda me consigo emocionar decentemente sem banda sonora e confesso que derramei mais lágrimas por Afonso da Maia do que pela maior parte dos meus semelhantes.

Sobre execuções o que sei aprendi num filme com Montgomery Clift e noutro de Chaplin. As palavras de Camus, no final de “O Estrangeiro”, também deformaram a minha sensibilidade a esse género de catarse colectiva. Por isso, temo ser cruel ou, pior do que isso, inexacto. Compadeço-me do trágico destino de Saddam mas, ao mesmo tempo, não deixo de apreciar o ritual da sua execução. Compadeço-me porque vejo reflectida naquela expressão de uma serenidade impossível perante a morte a minha própria mortalidade, o meu medo da morte. Compadeço-me porque eu sou aquele homem e carregamos ambos o mesmo fardo. Mas uma parte de mim alimenta-se de narrativas, de sensações estéticas, e a esse meu lado é indiferente o destino de Saddam, desde que seja uma boa história, desde que me provoque emoção. Penitencio-me: essa emoção é abjecta e fácil.

No fundo, eu queria salvar o homem e queria salvar a encenação dramática da sua morte (o que só acontece nos filmes), que é uma outra maneira de dizer que eu queria salvar-me e queria salvar as minhas emoções.

Bruno Vieira Amaral | 14:20 | 1 comments

 

Henrique e a TV do Estado socialista

Discordo: a TV pública, caro Henrique, terá alguns defeitos, mas consegue um nível de qualidade médio bastante aceitável na informação (na programação também, mas agora não interessa falar dela). Quanto a ECT: não apresentou prova do que afirmou e, confesso, não o vi tão crítico da tv pública quando ele era colaborador da mesma.
Recordo que a tv pública tem programas de debate regulares, tem informação nacional a partir da seis da manhã, tem dois grandes serviços noticiosos que escapam quando podem à agenda populista e tem um bom programa de entrevistas (Judite de Sousa). Para finalizar, e quanto à tragédia da Nazaré: pelo que sei, se há responsabilidades mediatas e imediatas, cabem à Marinha e à Força Aérea. O Governo actuou mandando instaurar um inquérito.

Parece-me que o dito Governo tem responsabilidades por muitas coisas más que se passam neste País (como o encerramento sem explicação da única unidade de transplantes hepáticos para crianças, em Coimbra, colocando em risco muitas vidas), mas não pode ser o bode de todos os males. Nem deve. A lógica de dependência total do Estado também se revela nos momentos em que o culpamos por tudo, ignorando ou querendo ignorar as responsabilidades de terceiros - basta lembrar os incêndios ou os desastres nas estrada.
Quanto ao resto, Bom Ano e parabéns. Se pudesse elegia-te o blogueiro do ano.

vc

vc | 13:48 | 3 comments

 

Até para o ano

Para todos um fantástico 2007.

Paulo Pinto Mascarenhas | 02:21 | 4 comments

 

A alternativa

Felizmente, Henrique, já temos uma alternativa aos telejornais oficiosos.
Ele há sempre a SIC Notícias.

Paulo Pinto Mascarenhas | 00:32 | 2 comments

 

sábado, dezembro 30, 2006

 

Um Estado e a sua TV

Existe um Estado que me vai ao bolso sem vergonha. Um Estado que consome metade da riqueza produzida pelos pessoas que vivem dentro das suas fronteiras. Metade. 50%. O mesmo Estado não foi capaz de salvar homens a metros da costa. Um Estado que está em todo o lado é o mesmo Estado que não faz o que lhe compete. Faz lembrar aqueles galarós que dizem que "comi esta e aquela", mas que depois, bem vistas as coisas, não passa de uma garganta com pernas.

A TV do Estado, no seu telejornal, demora a falar do caso. Começa com Saddam. Passa pela ETA. Antes de falar do naufrágio da Nazaré, resolveu falou de um naufrágio na Indonésia. E o naufrágio da Indonésia teve tanto tempo de antena como o naufrágio da Nazaré. Agora, estão a falar de radares. E uma "reportagem" de bolo rei teve mais tempo do que a reportagem sobre os homens que morrem porque foram abandonados pelo seu Estado. Depois, uma reportagem sobre ginásios e dietas ocupou cerca de 5 minutos. É justo: despacharam a Nazaré num único minuto. Está certo, sim senhora. Quem morreu afinal? Meros pescadores, labregos sem importância. A depois ainda se vai falar outra vez de Saddam. Claro: culpar os americanos pelo mal do mundo é mais fácil do que culpar alguém dentro de portas.

Lamento, mas Cintra Torres até foi demasiado comedido nas críticas. Não me lixem. Os jornalistas de TV neste país são lacaios do Poder, sobretudo quando ele é de esquerda.

Henrique Raposo | 20:34 |

 

Malhas do ano, III

Novamente, um dos grandes filmes do ano foi uma reposição. Depois de Aurora em 2005, O Leopardo em 2006.

Um filme não tem de ser (não deve ser) uma aula de História. Mas pode ser uma brilhante metáfora histórica [...] Luchino Visconti filma a emergência da Nação e o declínio da Aristocracia em meados do século XIX. [...]

[...] Esta lenta decomposição é revelada através de pormenores. Exemplos: pó e suor. O pó de um pequeno mundo feito de memória: a vila de Donnafugata (na cena da igreja, o “travelling”, desenhado sobre o pó que cobre os rostos da família aristocrata, é memorável). O mundo de Don Fabrizio é um mundo de pó. Literal e metaforicamente falando. Um mundo espaçoso, mas velho e vazio (repare-se no Palácio cheio de divisões abandonadas). No baile final, o suor percorre a face das personagens. Onde antes havia pó, encontramos suor. Mas a sensação transmitida é a mesma: o desconforto da aristocracia perante um novo mundo, um mundo que não entende, que não quer entender.

Mas, claro, o fim agónico da aristocracia tem no Leopardo, Fabrizio, a sua representação máxima. Este Príncipe siciliano é um homem preso entre dois mundos, melhor, entre dois tempos. O seu tempo está perdido. Irremediavelmente. Por outro lado, o novo tempo é uma entidade estranha aos seus olhos. E o que torna esta personagem num clássico é a sua dimensão trágica. Porquê trágica? Porque não é uma folha inerte ao sabor dos ventos históricos. Fabrizio tem consciência de que está perdido entre duas moradas históricas. E essa auto-consciência confere-lhe a tal dimensão trágica.

[...] Numa cena simples mas desarmante, Fabrizio, algures no baile e olhando-se ao espelho, deixa cair uma lágrima. Vemos uma lágrima a desbravar caminho no rosto galante do aristocrata. Naquela lágrima, esvai-se não apenas o Poder mas, acima de tudo, um certo modo de viver. Fabrizio sabe que o seu modo de vida não se adequa aos novos tempos. O seu tempo não é o tempo da máquina, da técnica, da modernidade. O tempo aristocrático é pausado pelo relógio de Deus (daí a presença constante do Padre) e não ritmado pelo tempo público, pelo relógio dos homens.

Mais: Fabrizio sabe que o seu tempo está perdido na História, mas, apesar disso, quer continuar nesse tempo. Este desejo pelo impossível reforça a sua dimensão trágica. Fabrizio simboliza, porventura como nenhuma outra personagem, o encanto trágico do reaccionário: o desejo de viver num tempo que mais ninguém vê ou sente; quer viver numa Sicília eterna e onírica, situada acima da História real (recusa o Senado e a ideia de Progresso veiculada pelo tecnocrata de Turim).

Esta tragédia interior do reaccionário é, em tudo, similar à dimensão trágica do revolucionário. Se o reaccionário vive num tempo já morto, o revolucionário vive num tempo que nunca chegará. Reaccionário e Revolucionário: os dois seres trágicos da modernidade política. [...] Não por acaso, Visconti conheceu por dentro as duas tragédias: nasceu aristocrata (Conde de Modrone; descendente directo dos Sforza), mas transformou-se num homem de esquerda. Só um esquerdista trágico do século XX poderia filmar tão bem a tragédia de um reaccionário do século XIX.


Edit de um texto publicado no início do ano aqui na Atlântico.

Henrique Raposo | 17:48 |

 

Critérios

Morrem pessoas em Portugal, sob a total incompetência das autoridades, mas os telejornais abrem com Saddam.

Henrique Raposo | 13:03 |

 

A 15 metros da praia

Eu não me esqueço é que morreram homens a 15 metros da costa portuguesa, com pessoas na praia a ver a morte, a 15 metros, o suficiente para ver os homens a chorar, para os ouvir a gritar, e o suficiente para não ver qualquer acção das entidades responsáveis. Os pilotos de helicópteros estavam todos de férias? São estas coisas que suicidam um país. E ninguém vai ser responsabilizado. Como sempre. No dicionário, "impune" resume-se a "ver Portugal".

Henrique Raposo | 12:52 |

 

sexta-feira, dezembro 29, 2006

 

Descubra todas as diferenças

Será então por volta das 19h - sete e picos da tarde - que poderá fazer a fineza de ligar a rádio em 90.4 FM e ouvir na Europa Lx o Henrique Raposo e o Pedro Marques Lopes a perorarem no "Descubra as Diferenças" sobre assuntos candentes como o incómodo que provoca o Natal junto de algumas mentes politicamente correctas; essa figura incontornável do socialismo vigente que é o presidente da Autoridade da Concorrência - Abel Mateus - mais a OPA sobre a PT; assim como as guerras na Somália e no CDS/PP, qual delas mais interessante e apelativa. Antonieta Lopes da Costa, emérita directora da rádio propriamente dita - e eu próprio, em representação da revista Atlântico, também contribuímos para o debate. Henrique Raposo e Pedro Marques Lopes estão em grande. O programa repete domingo, às 11h da matina e de novo às 7 da tarde.

Emissão também disponível online

em www.radioeuropa.fm

ou através da powerbox da TV Cabo



Paulo Pinto Mascarenhas | 18:02 | 1 comments

 

LIVRARIAS

Hoje tive que ir à baixa, à hora do almoço. Decidi fazer um passeio (raro) pelas livrarias. Comprei uma coisa na Livraria do Estado, a Leitura estava fechada (para hora de almoço), comprei outra coisa na Britânica. Voltei. A Leitura continuava fechada (para hora de almoço). Entrei na horrenda Almedina, não comprei nada e voltei para casa. Ao almoço, por acaso, lera no Público que a Civilização de Pedro Moura Bessa (um colega do liceu Garcia de Orta), iria provavelmente comprar a Leitura. Espero que a mantenha aberta à hora do almoço. E espero mais. Espero que a faça voltar, à sua maneira, aos óptimos tempos de Fernando Fernandes, o melhor livreiro que o Porto já teve, e uma pessoa culta e agradabilíssima, que se sabe fazer acompanhar de empregados civilizados. Muita gente já escreveu sobre ele, e Vasco Graça Moura fê-lo excelentemente. Por acaso, nos tempos do Garcia faltava muitas vezes às aulas para lá ir comprar livros, como, se a memória não atraiçoa, num poema do próprio Vasco Graça Moura. O que se lia inocentemente na altura (1975/6): Bataille, Artaud, os situacionistas e coisas assim; a literatura inglesa tinha-a em casa, por causa do meu padrasto. Tenho saudades desses tempos. E não tenho. Ninguém tem saudade dos 16 anos.

No mesmo Público de hoje descobri que a Buchholz está com problemas. Entre outras coisas, por causa da morte de José Leal Loureiro, que a iria futuramente dirigir. Voltei outra vez ao passado, convenientemente, num dia de chuva, e à mesma época. Só consegui, há tempos imemoriais, ser bem tratado na Buchholz quando estava em Mafra, numa ridícula passagem pela instituição militar. Ia lá fardado, e tratavam-me bem. A Luíza Neto Jorge – que vale formidavelmente a pena ler - disse-me um dia, também há muito tempo, que tratavam sempre bem o António Ramos Rosa. Acredito. E a Fernando Gil deixavam-no, há mais tempo ainda, copiar num caderno passagens do Das Kapital, em finais dos anos 50, contou-me ele. E lembro-me de José Leal Loureiro. Em 1976 ou 1977 fiz uma viagem Porto-Lisboa com Eduardo Paz Barroso para o visitar. José Leal Loureiro tinha uma editora – A Regra do Jogo -, e nós os dois tínhamos publicado três números de uma revista de poesia, chamada, vá lá Deus saber porquê, “Arco-Íris”. Em stêncil. Não má: além de nós, escreviam António Ramos Rosa e Nuno Júdice (que eu imitava ferozmente – um facto que não lhe passou desapercebido). Queríamos continuar a coisa com mais dignidade, convenientemente impressos. Foi duma facilidade extraordinária. Ele tinha acabado de acordar (ao meio-dia) e, com um bigode mexicano parecido com o de Guterres antes do poder, disse logo que sim, mal a primeira peúga saltou do canapé para o chão. E aconselhou-nos um restaurante próximo onde comer “bitoques” baratos, uma novidade inaudita para um miúdo portuense. Republicou os três primeiros números e publicou mais dois (que passaram a ser dirigidos, embora não nominalmente, também por Carlos Leite e por Bernardo Pinto de Almeida, que na altura assinava Bernardo Frey). A revista, é claro, acabou, esgotada a sua contribuição para a história das letras pátrias. Saudades. E o contrário delas.

Com a idade, uma pessoa acaba por preferir livrarias impessoais. E não se importa que as coisas do passado desapareçam. Pelo contrário: alivia. Os próprios livros parecem, às vezes, inimigos. O tempo voa. E aterra, ao mesmo tempo que voa. Mas eu gostava que a Leitura e a Buchholz dos meus tempos continuassem, fora do tempo, no mesmo lugar. Longe de mim, e intactas. O avesso da saudade.

Paulo Tunhas | 17:15 | 2 comments

 

JPC no Câmara Clara




Ora aqui está um programa a não perder: João Pereira Coutinho, meu ilustre amigo e colunista da Atlântico e do "Expresso", estará presente hoje à noite, dizem que às 22 horas em ponto, no maganize cultural da 2: apresentado por Paula Moura Pinheiro, o Câmara Clara.
Na informação prestada pela RTP, classificam o João como "um conhecido colunista de Direita", mas eu diria que se trata de um reconhecido Conservador.

Paulo Pinto Mascarenhas | 16:40 | 3 comments

 

Meus queridos livros

Nenhum estranho merece os meus livros. Nenhuma mão filistina vai folhear os oito volumes das minhas histórias de Sherlock Holmes, que eu lia no quintal, deitado numa cadeira reclinável, sempre que voltava da escola. Se não houver outro motivo para ter filhos, que sirva este: criar não só guardiães mas leitores dignos dos seus livros. Frequentemente penso em que boas mentes seriam formadas no meio dos meus livros, e às vezes escolho comprar um livro pensando nisso. Eu mesmo cresci numa boa biblioteca.

Alexandre Soares Silva, na Atlântico de Janeiro. A não perder.

Paulo Pinto Mascarenhas | 16:05 | 1 comments

 

Atlântico na Rádio Europa

Hoje, às 19h e picos, ligue a Rádio Europa em 90.4 FM e oiça os atlânticos Pedro Marques Lopes e Henrique Raposo. Sobre o politicamente correcto e o Natal, sobre a OPA, sobre a Somália, e sobre essa Somália da política portuguesa que é este CDS. Antonieta Lopes da Costa - em nome da Europa LX - Paulo Pinto Mascarenhas - o big boss - põem ordem no barraco. E ainda dá para ouvir, no final, o padrinho James Brown.

Henrique Raposo | 15:59 |

 

E fazia muito bem

Ou muito me engano ou os primeiros a ser corridos do CDS, se Paulo Portas voltar, vão ser os que agora mais reclamam o seu regresso

Pedro Marques Lopes | 15:49 | 0 comments

 

Agora já está nas bancas

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Paulo Pinto Mascarenhas | 15:17 | 0 comments

 

Livros do ano, IX

A tradução de On the Natural History of Destruction, Sebald (Teorema).

1. O ponto de partida de On the Natural History of Destruction, ensaio de Sebald, é a campanha de bombardeamentos que a força aérea aliada lançou sobre a Alemanha. Os aliados, sobretudo a RAF, destruíram 131 cidades alemãs; 600 mil civis alemães morreram; sete milhões e meio ficaram desalojados.
Sebald não pretende criticar os aliados nem procura vitimizar a Alemanha. A sua intenção é outra. O autor pretende criticar a normalidade com que os alemães encararam a destruição completa das suas cidades. Quando confrontados com a destruição, que eles próprios atearam, os alemães passaram por cima do assunto.

2. A história e a literatura acompanharam a amnésia colectiva. Sebald identifica, digamos assim, três tipos de autores amnésicos: (1) amnésicos totais. Os bombardeamentos foram ignorados pela grande maioria de historiadores e escritores. (2) amnésicos parciais. Certos autores (ex: Nossack, Kasack, Mendelssohn) abordaram o passado alemão, em geral, e os bombardeamentos, em particular, sem uma completa consciência histórica e ética. Estes autores nunca conseguiram encontrar o tom certo para a descrição do horror. Acabaram por cair em excessos existencialistas gratuitos. (3) amnésicos fraudulentos. Grupo de autores amorais representado por Alfred Andersch. Andersch permaneceu na Alemanha durante o III Reich e, mais grave, foi apoiante discreto do regime. Depois da guerra, a auto-relegitimação constituiu a sua única preocupação. Por isso, desviou atenções do verdadeiro passado alemão.

3. O que mais inquieta é perceber que os alemães encararam um inferno político, causado por decisões políticas, como algo similar a uma catástrofe natural. A Guerra, humana, tornou-se equivalente a um terramoto, coisa dos humores naturais e alheios à vontade humana. Encararam o horror da destruição causada pelo homem com a normalidade de quem olha uma tempestade a destruir um navio ou a inundar uma cidade. Retiraram a humanidade (a agência racional, a vontade moral, a decisão consciente que é matar) da guerra. A destruição pela guerra (humana) no mesmo patamar da destruição natural, eis o erro, o problema e o que inquieta (será que os alemães são incapazes de aprender? Será que só estão nesta terra para inventar conceitos novos com a seu idioma gelatinoso? Nunca vão aprender coisas já velhinhas?).

4. Tirando um ou outro (ex: Ernst Nolte, convenientemente rotulado como besta negra, porque ousou remexer no passado), os alemães nunca analisaram as causas políticas da ascensão de Hitler. Nunca questionaram a sua própria história. Recusam o passado, mas nunca o criticam analiticamente. Ignoram-no, como quem ignora aquele tio que bebe muito e cheira mal. Taylor dizia que os alemães são gente de extremos. Nem mais. Do 8 nacionalista de Hitler saltaram para o 80 pós-nacionalista de Habermas. No entretanto, não aprenderam nada. Até podem sentir culpa, mas não sabem o porquê dessa culpa. Enquanto Hitler tiver a dimensão superficial e determinista de um terramoto, então, estaremos sempre no ano zero, como diz Tony Judt. E ninguém sente culpa genuína por um terramoto, diga-se.

5. Os alemães esquecem como forma de sobrevivência. Para sobreviverem enquanto povo, os alemães escolheram um caminho: amnésia voluntária e colectiva. Erro trágico. On the Natural History of Destruction é um alerta para o perigo desta forma de sobrevivência. Porque esta negação do passado parte de um pressuposto perigoso: aquilo que aconteceu entre 1933-45 nunca mais poderá acontecer. Ilusão. Pode acontecer, sim senhor. Sobretudo, quando milhões de jovens alemães olham para Hitler como quem olha para o tsunami da Tailândia.

6. Comparem este livro, sobre a amnésia alemã, com o Underground, onde Murakami aborda a amnésia japonesa. Vão encontrar alguns pontos em comum interessantes entre estes dois seres complicados e que se levam demasiado a sério, a Alemanha e o Japão.

Henrique Raposo | 14:58 |

 

Só isto dava para reflectirmos sobre a nossa... democracia, sobre a relação entre poder e jornais

De facto, com raríssimas excepções, em Portugal não há cronismo. O que há é quota de representação parlamentar em naco de prosa.

Eduardo Pitta

Henrique Raposo | 12:27 |

 

Nas bancas


- Rui Ramos e o "reformismo do PS".

- Miguel Noronha e a nossa economia.

- O Livro de Santana Lopes à lupa

- O Novo Atlântico por André Abrantes Amaral.

e mais.

Henrique Raposo | 12:14 |

 

Quando até o Natal é atacado pelo politicamente correcto, convém traduzir este manifesto

‘Politicamente Correcto’. O novo PC. Expressão escutada todos os dias. Mas como é que se define o PC? Quais são as suas características? Eis a missão deste pequeno panfleto da autoria do britânico Anthony Browne (correspondente do ‘The Times’ em Bruxelas).

O PC não é uma doutrina que ilumina o futuro. Ninguém grita “eu sou PC!” (paga-se um sumptuoso jantar a quem ousar gritar “tenho orgulho em ser PC!”). Não é uma ideologia colectiva. É, isso sim, uma crença privada. Mas, atenção, é uma crença privada partilhada, em silêncio, por milhões. É um manual de comportamento e de policiamento [...] E, por ser privada, é uma crença emocional. Como afirma Browne, representa a abolição da razão pública [...]

O PC reina na Academia e nos Media desde a contra-revolução cultural dos anos 60. Base ideológica? Uma simples dualidade de critérios: “o Ocidente, os EUA e as empresas multinacionais não podem fazer nada de bom; o mundo em desenvolvimento não pode fazer nada de mau”. Sejamos honestos: o PC é a esquerda caviar! É um marxismo cultural. O velho marxismo explicava tudo (da traição da mulher do padeiro até ao degelo em Marte) através das relações económicas. Este novo marxismo explica tudo, mas mesmo tudo, pelo sentimento de pertença a grupos culturais, étnicos, sexuais e religiosos. O motor da história era a luta entre classes. Hoje, dado que o velho motor engripou (o degelo marciano, aparentemente, não teve nada a ver com a luta de classes), a história passou a ser movida pela luta entre os tais grupos sócio-culturais. Tradução: o mau-da-fita, outrora o ‘burguês’, é hoje o ‘ocidental’; o herói, outrora o ‘proletário’, é hoje o ‘não-ocidental’. No passado, quando alguém criticava o comunismo, era apelidado de ‘fascista’. Hoje, quando criticamos um não-ocidental, somos apelidados de ‘racistas’. Táctica brilhante!

O PC acaba por ser uma teoria do silêncio selectivo; há opiniões que não podem ser escutadas. Pior ainda: o PC encerra uma predisposição para a negação de factos (ex: o aumento do anti-semitismo deve-se a jovens muçulmanos e não a neo-fascistas). O PC cria uma realidade virtual. Uma virtualidade racista, diga-se. Sim, o racismo existe no PC. Quem divide o mundo em raças é racista. Quem trata o ‘outro’ com paternalismo é racista. Assim: R-a-c-i-s-t-a.



"O Racismo silencioso", texto publicado na Atlântico durante este verão.

Henrique Raposo | 11:35 |

 

100%

Os campeões da barbárie evocam Guantánamo e mais desmandos da Administração Bush para alegarem hipocrisia ocidental. O facto de os Estados Unidos terem já começado a corrigir-se e de não haver comparação entre as democracias ocidentais e as suas tiranias não os desanima. Não entendem que Guantánamo é um erro no nosso sistema e que as matanças de Darfur são o sistema deles.


Cutileiro

Henrique Raposo | 11:13 |

 

Desafiar o regime

Eu sou o Thoreau dos pobres. O Thoreau bananeiro. Repudio a autoridade de Lula. Lula pode ser o seu presidente. Meu ele não é.

Mainardi


Henrique Raposo | 11:09 |

 

Sobre a democracia espanhola




Hoje, pela manhã, vi na RTP uma peça excelente de Rosa Veloso, correspondente em Madrid, sobre uma espécie de dia das mentiras que se celebra nesta altura em Espanha.
Rosa Veloso notou, e muito bem, que no mercado de rua onde podem comprar-se, entre outras especialidades, bombas de mau cheiro, cócó falso, charutos para crianças, cabeleiras e máscaras, faltavam referências ao poder. Ou seja, podia comprar-se máscaras de Aznar ou Mariano, mas faltava Zapatero, o rei ou Letizia. Porquê? A vendedora explicou: as fábricas recusam, embora haja pedidos.
O que levará esses fabricantes de tretas a recusar um pedido do mercado? Será uma cultura do «respeitinho», ou o medo?
A euforia ibérica que se pressentiu ao longo deste ano é em grande medida fruto da ignorância e espelho da ambição facilitista (ou seja, a famosa escola de pensamento Euromilhões). Gostava que os iberistas discutissem também a qualidade da democracia espanhola, a politizada Justiça espanhola, a independência dos media. E para o quadro ficar completo, que se discutisse o regime. Ou será que os iberistas portugueses são todos monárquicos?

vc

vc | 10:17 | 2 comments

 

quinta-feira, dezembro 28, 2006

 

A Grande Entrevista do ano!

"A única atitude decente que um intelectual pode tomar é odiar a própria pátria".

"O Brasil seria melhor até mesmo se tivesse sido colonizado pelo Uganda".

"Ele [Bush] é um trapalhão. Um trapalhão que, nos momentos importantes, tomou as decisões certas, mas foi péssimo na hora de executá-las".


DIOGO MAINARDI na Atlântico! Já nas bancas.

Bernardo Pires de Lima | 23:43 | 5 comments

 

A LER

O que João Miranda escreve sobre o "cartão único" no Blasfémias. Não sei se é exactamente assim, mas é muito verosímil. Em todo o caso, serve para pensar duas vezes antes de nos indignarmos. E para buscar informação antes de protestarmos contra o "totalitarismo".

Paulo Tunhas | 23:32 | 0 comments

 

Descubra as diferenças


Amanhã, às 19h e picos, ligue a Rádio Europa em 90.4 FM e oiça os atlânticos Pedro Marques Lopes e Henrique Raposo. Sobre o politicamente correcto e o Natal, sobre a OPA, sobre a Somália, e sobre essa Somália da política portuguesa que é este CDS. Antonieta Lopes da Costa - em nome da Europa LX - Paulo Pinto Mascarenhas - o big boss - põem ordem no barraco. E ainda dá para ouvir, no final, o padrinho James Brown.

Henrique Raposo | 22:56 |

 

O Novo Cinema Português

"Noite Escura", João Canijo (2004), "Alice", Marco Martins (2005) e agora o "20,13", de Joaquim leitão. Assim vale a pena. É cinema e não literatura filmada. Não disfarçam as fragilidades técnicas com o chavão de "cinema de autor". Não há cinema de autor ou comercial. Há cinema. Ponto. Ainda hoje, a falar com um amigo, lembrei-me que Fellini era um realizador que, usando esta estúpida dicotomia, teria de ser considerado comercial. E Hitchcock também. Canijo, Martins e Leitão não fazem filmes para os rótulos dos amigos que têm na crítica e nas comissões que decidem os subsídios a atribuir. Fazem cinema, livremente, sem pensarem se aquilo que estão a fazer é ou não "cinema de autor", "cinema europeu" ou o raio que parta. E fazem uma coisa que parece proibido em Portugal: narram; contam uma estória com a linguagem do cinema, que não é a mesma da literatura. Um exemplo: este é um filme sobre Portugal, sobre os portugueses. Normalmente o que fazem os realizadores tugas? Metem personagens a dissertar (câmara quieta; planos de 10 minutos apontados à personagem que explica Portugal como se estivesse numa aula). Ora, Leitão fala de Portugal de maneira indirecta, através da acção das personagens, através da narrativa, da ficção e não a tese explícita. Há trabalho técnico (montagem, fotografia, música, etc.) e não o costume: "ouçam este texto literário na boca de uma personagem que é o meu alter ego de escritor falhado mas que como havia guito para fazer filmes vim aqui fazer literatura-filmada".

Conselho de amigo: ide ver o 20,13. Mostra um realizador maduro, na posse da linguagem do cinema (montagem seca e fluída; música no sítio certo; excelente escolha da música de Zeca Afonso como tema central - aquela cena onde todos cantam é Portugal). Leitão sabe uma coisa que a escola Oliveira (ou a provinciana via portuguesa para o cinema, isto é, a literatura-filmada) nunca percebeu: literatura é literatura, cinema é cinema. Um argumento de cinema não é um texto literário, filosófico. Tem outras características. O cinema português tem revelado sempre uma imaturidade tremenda, como se ainda fosse um apêndice da literatura. Pode ser que esta nova geração mude isso.

Henrique Raposo | 22:26 |

 

Frase do ano

"Há oferta a mais e arte a menos", Bernardo Sassetti, no "6ª" da semana passada.

Henrique Raposo | 18:33 |

 

100%

A verdade simples é que se não houver Constituição não há nenhum impasse da UE, a não ser para quem alimenta manias de grandeza a seu respeito. A UE tem sido um êxito e quanto mais se quiser fazer dela aquilo que ela não deve ser mais se ameaça esse mesmo êxito. Alguém vê algum problema em deixá-la como está, melhorando apenas os mecanismos de decisão para acomodar mais países? Posso estar enganado, mas eu não vejo. Talvez fosse altura de encostar a bicicleta, para que a Europa deixe de ser um problema para os europeus.

Não podia estar mais de acordo com o que escreve hoje o Luciano no DN. Alguém já tentou perguntar aos Estados membros - sobretudo os de Leste - se eles querem prescindir do chapéu de segurança norte-americano em detrimento de "uma ideia" autónoma comandada, naturalmente, pela França, Grã-Bretanha e Alemanha?

Bernardo Pires de Lima | 18:25 | 0 comments

 

Corra! Já está nas bancas





Henrique Raposo | 18:22 |

 

É este o "grande projecto francês" para a UE?

Germans pull out of European bid to rival Google

Parece que os alemães tiraram o tapete a Chirac. Fizeram muito bem. Para além das eternas discussões à volta das bananas e do "projecto europeu contra o imperialismo anglo-saxónico" - seja ele qual for - já se percebeu que Chirac nunca teve nada para dar à Europa, a não ser a sua visão umbiguista que confunde "França" com a "União". Saia de cena pela porta pequena, se faz favor e deixe-nos brindar ao "imperialismo anglo-saxónico"! Basta conversar-se cinco minutos com gente da Europa de Leste para se perceber que Paris é tão importante para eles como o Djibuti é para nós.

Bernardo Pires de Lima | 18:04 | 0 comments

 

Perdão


A comutação da pena aplicada a Saddam é a única solução decente que o Ocidente devia defender (e não esconder-se na argumentação ténue e hipócrita que é o Direito interno iraquiano; de resto, esse Direito interno foi a causa da invasão).

Quando os EUA e Aliados atacaram o Iraque - pensava eu - fizeram-no também no pressuposto de que podíamos ajudar na defesa dos direitos humanos do povo iraquiano. Não foi. Assassinar Saddam é um erro político e é errado.


vc

vc | 10:01 | 2 comments

 

quarta-feira, dezembro 27, 2006

 

SPQR

Esta crónica é uma expressa declaração de amor. Não, não estou a induzir o leitor à intromissão na minha vida privada, apenas movo um processo de intenções declarado e despudorado em relação à mais bela criação do Homem: Roma.
O ano lá passado tem mais sumo que uma simples crónica. De qualquer maneira, por não sofrer da síndroma stendhaliana da progressiva paixão ou da “imaginação” compulsiva (Stendhal, “Crónicas Italianas”, Ed. Estampa), assumo-me como um inveterado romanista, da minha Roma vista da Villa Borghese ao final do dia, das cúpulas sucessivas de igrejas que rasgam um céu, ora cinzento, ora laranja, não interessa a cor que lhe atribuam. Goethe não lhe encontrava paralelo no mundo.
Comungo com o António Mega Ferreira (Roma, Assírio e Alvim) a centralidade da Rotonda nos meus sentimentos pela cidade. Indo ao Largo Argentina ou para o lado oposto – Caravaggio na San Luigi dei Francesi, até à Piazza del Popolo – temos semanas garantidas. Nada é indiferente, ao mesmo tempo que a agitação das ruas, do trânsito e das falas se entrelaçam numa calmaria à disposição num qualquer recanto.
Ricardo Bocca (“Roma: Città a Parte”, Ed. Mondadori), que há tempos trocou Milão pela capital, diz que o que distingue a primeira desta é que na cidade eterna todos anseiam por verem e serem vistos. Nenhum problema, quanto a mim. Daqui ao calor humano é um pequeno passo e quem conhece as duas realidades cedo se apercebe onde nos sentimos mais em casa. Perdoem-me os milaneses mas... Milão não é Itália.
A minha Roma é a da Piazza San Pietro depois de uma chuvada de Inverno, onde as luzes se reflectem num silêncio de início de noite. A minha Roma é a de Trastevere, onde entre a beleza de Santa Maria e o cheiro a livros e café da Bibli, nos perdemos pelo bairro mais belo do mundo. A minha Roma é a da fruta do Campo dei Fiori, das suas flores e de um velhote que em calão bem alto foge das fotografias dos turistas a sete pés. A minha Roma é a de Giannini e Totti, dois imperadores que garantem que a História não foge daquelas paragens. A minha Roma é a da arte em cada passeio, do cântico que sai de cada italiano, da familiaridade dos espaços, dos arrepios na espinha com a luz que nos entra nos ossos.
A minha Roma tem magia. É mais que eterna. Vive comigo diariamente. Tem o charme das suas cores, o barulho da sua vivência, o sangue da sua glória. Tem água, calor, frio. Tem silêncios e caos. Ocres e verdes. Tem rio de prata e um saxofone à nossa espera na ponte Sisto (Claudio Corrivetti, “Roma in Bianco e Nero”, Ed. PostcArt). A minha Roma é vida para além da morte. É surpresa e previsibilidade. É impacto, peso, submissão. Mas também encaixe, aventura, conquista. É um ser vivo e eu sou apaixonado por ela.
E como em qualquer relação de amor, tudo o que se diga ou escreva é de todo insuficiente para a descrever. Mea culpa. Ti voglio tantissimo bella!

Publicado na Atlântico Nº 16

Bernardo Pires de Lima | 18:27 | 2 comments

 

Das melhores notícias do ano

Ficar na lista dos blogopreferidíssimos da Bomba Inteligente em 2006.

Paulo Pinto Mascarenhas | 18:11 | 0 comments

 

Do Império à lei da Bomba

Carlo, filho de Giangiacomo Feltrinelli - o maior editor da história italiana - revela-nos neste livro a sua visão de um pai ausente. Excêntrico, milionário, militante e auxílio do partido comunista de Togliatti, financiador de movimentos extremistas cubanos e afins, Giangiacomo continua a pairar por aí, quanto mais não seja pelos nomes que a sua editora mostrou ao mundo.
Fundada em 1954, a casa Feltrinelli revelava à Europa “ O Doutor Jivago”, de Pasternak, “O Leopardo”, de Tomasi di Lampedusa e, mais tarde, Saul Bellow, Jorge Luís Borges ou o “Trópico de Câncer”, de Henry Miller até “Cem Anos de Solidão”, de Garcia Marquez. Bem maior que Itália, a editora passava a espelhar o papel do livro no cenário político, tendo o seu mentor um tipo de intervenção que lhe causou, aos quarenta e seis anos, a morte: ao preparar uma bomba para colocar numa central eléctrica nos arredores de Milão, viu-a explodir-lhe nas mãos, desfigurando-o e içando-o num poste de alta tensão. Feltrinelli foi mais que um editor. Foi revolucionário, militante, utópico, radical. Mas o que “Senior Service” (a marca de cigarros que fumava) nos revela é a história de um homem desconhecido da maioria das pessoas, contada por um filho que o conheceu apenas em pequeno e que busca verdades entranhadas na Guerra Fria. Sem margem para encobrimento.
A vida de Feltrinelli é retrato de época. Ou éramos pró ou anti soviéticos. Ele escolheu o treino com os serviços secretos russos, o apoio financeiro aos movimentos palestinianos para que internacionalizassem o conflito, o desejo de libertação da Sardenha, ou ser um contacto privilegiado na Europa do modelo revolucionário das gentes de Havana. Viveu obcecado por Che, pelas guerrilhas venezuelanas e bolivianas. Morreu no seu próprio feitiço.
“Senior Service” tem a particularidade de nos dar uma novela de vida e de época. Um mundo entre o livro e a clandestinidade. Entre um império financeiro de uma família milanesa e a sua aplicação na destruição do mundo que lhe deu abrigo. Um personagem que caiu no esquecimento logo após a sua morte e que, na esteira do camarada Engels, abominou a fortuna e o mundo capitalista como se não fizesse parte dele. São as contradições da fé vermelha a que o mundo nos habituou.

Carlo Feltrinelli, Senior Service, Ambar, 2006. Publicado na Atlântico nº 17

Bernardo Pires de Lima | 17:58 | 0 comments

 

Um cartão de Natal politicamente incorrecto nos dias que correm



Para mim, o melhor "cartão" que recebi. Da minha irmã Rita.

Paulo Pinto Mascarenhas | 17:54 |

 

Apoiado!

Se eu tivesse uma editora

26 de Dezembro de 2006 às 11:52 pm por Helder

…e os poderes de Gandalf para fazer dele um best-seller, publicaria um livro com posts do Henrique Raposo, do Rui Albuquerque, do Pedro Arroja e do Migas. De John Locke a Ayn Rand, passando por Hayek e Rothbard.


N' O Insurgente.



Paulo Pinto Mascarenhas | 17:46 | 0 comments

 

Os meus cartões de Natal (III)

caravaggio
[Quadro: Riposo durante la fuga in Egitto (1597), Caravaggio]

Do Tiago Barbosa Ribeiro, do Kontratempos e Passado/Presente. Ainda por cima acompanhado de Vinicius de Moraes: «Para isso fomos feitos: / Para lembrar e ser lembrados». Nem mais.

Paulo Pinto Mascarenhas | 16:34 | 0 comments

 

Os meus cartões de Natal (II)




















De Lucy Pepper e querida família.

Paulo Pinto Mascarenhas | 16:20 | 0 comments

 

Os meus cartões de Natal

Dedo nº 102 - As Boas Sestas Festas dos Dedos

As Boas Festas dos Dedos

Um Feliz Natal e um Excelente 2007, são também os meus votos.

...e não se esqueçam de assinar a Petição: http://www.ipetitions.com/petition/contratlebs/tlebs.html

Paulo Pinto Mascarenhas | 16:09 | 0 comments

 

Um retrato de Portugal

Salazarhttp://luzdeagosto.blogs.sapo.pt/arquivo/Cunhal.jpg

Recomendando a leitura deste texto do AAA n' O Insurgente, acrescento que não deixa de ser um retrato de Portugal - e do estado da democracia, ou do modo como os portugueses vivem a democracia - que Salazar e Cunhal estejam ambos no Top 10 do concurso da RTP "Os Grandes Portugueses". E que Francisco Sá Carneiro, por exemplo, não tenha sequer sido nomeado. Salazar e Cunhal são duas faces de uma mesma moeda de um país que continua - e assim continuará - irremedivelmente atrasado.

Paulo Pinto Mascarenhas | 15:57 | 1 comments

 

Amanhã nas bancas

-1

Paulo Pinto Mascarenhas | 15:53 | 0 comments

 

A ler

E os dez melhores filmes de 2006 são..., Leonardo Ralha.


Leonardo Ralha é uma das pessoas que vale mesmo a pena ler sobre cinema. Tenho saudades do "Indígena" do Indy. Podemos discordar das suas escolhas (Jarhead? Children of Men?), mas percebemos o porquê da escolha. Há um critério. Há honestidade. E, acima de tudo, há respeito pelo filme e pelo leitor. Muitas vezes, quando lemos críticas, não se percebe o que raio está o crítico a dizer. Porque, não raras vezes, os críticos estão a escrever sobre muita coisa menos sobre o filme que é suposto criticar. O Ralha até é um tipo roliço, mas esconde muito bem o seu umbigo. Uma raridade numa terra cheia de umbigos ao léu.

Henrique Raposo | 13:29 |

 

Livros do ano, VIII


Sem menosprezo por outras, confesso a minha admiração por duas editoras novas, que tiveram em 2006 a sua entrada em grande no mercado: a Tinta da China e a Alêtheia. Estão a ser para o ensaio aquilo que a Assírio & Alvim tem sido para a poesia. E não traduzem o costume. Quando comecei a estudar, só havia nas livrarias os suspeitos do costume: Chomsky, Said, Negri, Ramonet e mais Chomsky. Felizmente, começa a haver mais variedade. Graças a editoras novas como estas duas.

Este é mais um grande livro - um clássico contemporâneo - da colecção da Tinta da China. Niall Ferguson, nos últimos anos, tem dedicado o seu talento à produção de teses dramáticas, que ficam bem na TV. Mas, outrora, foi um grande historiador. Este é um dos seus grandes contributos. Uma defesa de uma historiografia conservadora. De uma vez por todas, entenda-se conservador no sentido exacto da coisa. Conservador não é o reaccionário, não é o tradicionalista, não é o romântico, não é o gajo da "moral e bons costumes", etc. Conservador é aquele que sabe que a História não é determinada de antemão. É, portanto, o tipo que melhor entende e dá valor à liberdade dos homens. Este livro (sobretudo o ensaio de abertura de Ferguson) é um manifesto contra todas as escolas teóricas que julgam possuir a chave da História. Ferguson critica o determinismo religioso, materialista e idealista (hegelianos). A História é caótica. Não tem uma linha definida à partida. Depende apenas dos homens e não de um Homem qualquer retirado de um estirador determinista de um gabinete determinista habitado por um ser determinista que se julga o centro das leis deterministas criadas, de propósito, para ele, oh génio, determinar o mundo e os outros.

Para uma coisa mais séria, ver uma Atlântico ainda na forja.

Henrique Raposo | 12:31 |

 

Mundo pós-França

O novo Secretário Geral da ONU, Ban Kin-Moon, não fala francês. Não conheço sinal mais simbólico do mundo pós-europeu que temos pela frente. Naturalmente, os franceses fizeram birra. Não surpreende. Para a elite francesa, o mundo começa na Science Po e acaba no Eliseu. Nem sequer conhecem as orlas exteriores de Paris. Não percebem a razão do seu declínio. Só um exemplo: pela net, é mais fácil encontrar um Aron, em inglês, num alfarrabista na Índia. Aparentemente, os Arons em francês só mesmo indo a Paris.

Henrique Raposo | 11:55 |

 

Alguns livros a pedir tradução

John Gray, Heresies, Against Progress and other Illusions.
(Não sei se passa na ERC)

Josef Joffe, Überpower
(Não sei se Bruxelas deixa)

John Dunn, Setting the People Free.
(não sei se a nossa constituição deixa)

John Micklethwait e Adrian Wooldridgeskip to next title, The Right Nation.
(não sei se o anti-americanismo deixa).

André Glucksmann, Ouest contre Ouest.
(não sei se a França deixa).

Alain Minc, Ce monde que vient
(não sei se ele deixa)

Henrique Raposo | 00:30 |

 

terça-feira, dezembro 26, 2006

 

Descobrir que se pode escrever com os olhos a pedir lenço

D. Rosa

Há tempos, no autocarro, encontrei a D. Rosa.

Quem é a D. Rosa? A Monarca do meu tempo de liceu. Uma entidade. Quase-divina, quase-sublime: a contínua do ginásio. Alta e com aquele andar fulminante que só a anca de uma mulata pode dar ao mundo. Com quarenta anos. Seca na carne. Húmida nos olhos. Uma gigantesca Vénus negra. E eu, ali, especado, como um pequeno Marte. Siderado perante tamanho espectáculo de mulher. Um delírio. Um delírio platónico, atenção. Melhor ainda: um delírio pedagógico. Sim, aprendi mais com D. Rosa do que com aquela multidão de sindicalistas que nas horas vagas finge dar aulas.

Como estava na antecâmara do ginásio, D. Rosa via coisas que mais ninguém via: beijos mais demorados; camisas e saias fora do sítio; tentativas vãs de sedução em cantos escondidos. E ouvia também. Os desejos hiperbólicos dos rapazes; as confissões inconfessáveis das miúdas. Face ao espectáculo deprimente, D. Rosa começou a dar conselhos. Não às meninas. “Elas não precisam”, dizia. O alvo da sabedoria era a rapaziada. Bendita hora. Parecíamos fanáticos em redor daquela Maomé sagrada. D. Rosa era um arsenal de vida que unia pretos, brancos, ciganos, muçulmanos e até um chinês (o Deng) e um brasileiro (o Xavier “berimbau”). Todos juntos. Uma irmandade em redor de estórias. Um comício seduzido por conselhos. Conselhos como este: “Filhos, não há mulheres frias. Apenas homens desatentos”. Alguém duvida desta verdade cristalina?

Mas a lenda, como todas as lendas, fez-se com um clássico. Este conselho épico, esta dica primordial, enfim, esta verdade revelada circulava na escola à velocidade com que um fanático arranja uma bandeira da Dinamarca. E o clássico rezava assim: “quando nos zangamos é que é bom!”. Uma certeza. Uma das poucas leis da vida. Quando passávamos por ela, brincávamos: “Depois da zanga é que é bom, não é D. Rosa?”. Ria-se. Com o rir honesto que acompanha a certeza do dever cumprido.

Esta monarquia de estórias e conselhos foi interrompida por um golpe de estado. Autor: o Ministério. Razão: a do costume, a cegueira pedagógica. Ordenou-se que todas as crianças do reino deveriam ter aulas sobre sexo. A coisa sempre me pareceu um desperdício. Lembro-me de pensar: “mas os gajos não sabem que há a D. Rosa?”. As ditas aulas, consumadas no anfiteatro, eram dadas por psicólogas e sociólogas. Resultado: transformaram-nos em cobaias de mais uma experiência. Querem saber como era? As tipas passavam slides com imagens horrendas que mostravam as delicadezas, masculinas e femininas, deformadas por doenças venéreas. Ainda hoje tenho um murro guardado para o iluminado que concebeu aquele holocausto genital.

Entretanto, passei a ser um número numa caderneta de uma sexóloga que queria controlar a minha vida. Ainda por cima, esta Júlia Machado Vaz sem sofá queria que eu usasse a expressão “auxiliar da acção educativa” no trato com as continas. “D. Rosa é demasiado íntimo”, disse-me certa vez. Em resposta, a tipa recebeu o meu primeiro manguito (um momento-chave em qualquer existência, como se sabe).

Pensei nisto tudo nos momentos em que estive sentado ao lado de D. Rosa no banco do autocarro.

Já deve estar à beira dos sessenta. Já não tem a secura na carne. Mas mantém o doce húmido nos olhos. Lamentou-se: “Aí, filho! Aquilo já não é o que era!”. Parece que os miúdos já não a tratam por D. Rosa. Agora é a “Auxiliar Rosa Martins”. E já ninguém lhe pergunta nada. Quando me levantei para sair, segredei-lhe ao ouvido: “Deixe lá isso. O que interessa é que quando nos zangamos é que é mesmo bom! Não é?”. Chorou. Aquele choro, secreto e surdo, é a única coisa que estimo do meu tempo de liceu.




Uma "vida académica", aqui na Atlântico de Fevereiro ou Março.


Henrique Raposo | 23:57 |

 

Ainda e sempre o aborto

Pedro Marques Lopes,

1. a vida é determinada pela Política? Claro. Mas em que escala? Isto não é entre um 8 apolítico e um 80 super-político. O que nos distingue, enquanto família política, é limitar ao máximo a acção da Política, para que existam espaços fora da acção do Poder, da Lei, do Estado. O que nos distingue, para usar a tua expressão, é dizer que nem tudo é político. Colocar a questão do aborto na esfera “Política” assusta-me. É um susto que existe antes de qualquer legislação sobre o assunto.

2. A minha posição continua a mesma: o acto é imoral mas não vejo necessidade de o considerar ilegal. A distinção entre lei e moral é preciosa, acho. Se vivemos num regime que tende a transformar qualquer imoralidade em ilegalidade, então, estamos mal. Concordo que o Estado não deve interferir na decisão. Mas não era esse o meu ponto. Aquilo que queria dizer é o seguinte: é uma ilusão pensarmos que a “legalidade” da coisa vai acabar com o drama da situação. Era só isso. É uma das ilusões da nossa modernidade: pensar-se que a política e lei podem resolver tudo. Se calhar custa a engolir, mas a verdade é esta: existem problemas sem solução política. Este é um deles. Sim, temos de atenuar o sofrimento e a tragédia. Mas neste caso isso faz-se fora da política, através da criação de redes de voluntários (ou não) de ajuda às mães jovens. Eu dou dinheiro à paróquia para que exista um infantário "barato" onde muita jovem mãe pode meter o seu filho. Este problema pode ser atenuado na nossa rua, no nosso bairro, ajudando os nossos, aqueles que vemos todos os dias. Este problema nunca vai ser resolvido através de uma lei nacional que tudo pretenda abarcar.

3. Não falo da “moral e bons costumes”. Falo, se quiseres, da “ética” que cada um tem dentro de si. Um aborto pesa sempre. Individualmente. Não estou a falar da pressão da moral exterior, mas do conflito ético dentro da mulher. Lamento, mas quem faz um aborto sem pestanejar, sem pensar duas vezes, sem sentir um palmo de culpa, lamento, é uma besta. Não a quero presa, mas é uma besta. E este direito ninguém me pode tirar: o de criticar moralmente uma pessoa. Com ou sem lei, o drama vai estar sempre lá. É esta a minha posição: imoral, mas não ilegal. Uma posição que leva porrada dos dois lados. É a vida.

4. Não voto por várias razões. Democracia directa é coisa que não entra muito bem no goto. Num país civilizado, estas coisas decidem-se no parlamento ou por decisão do supremo tribunal. Até ver, duas coisas impossíveis de conseguir em Portugal. Depois, admitia votar se a pergunta fosse a seguinte: "deve a mulher sofrer o processo de julgamento?". Aqui respondia "não". Era esta a questão certa para quem afirma que o Estado não tem de meter o bedelho. Mas a questão proposta não é esta. É uma questão idiota porque não tem resposta certa. É um tratado de metafísica num parágrafo. Não admito que seja o Estado a decidir onde começa a vida dentro do ventre da mãe. Porquê 10 semanas? Por que não 6? Ou 5 e três dias? Que arbitrariedade é esta? E depois esta questão coloca-nos perante o seguinte: todo o serviço nacional de saúde que não é capaz de tirar um dente à minha vizinha Laurinda é o mesmo que se prepara para fazer abortos. Lamento, mas recuso-me a participar na fantochada. A única pergunta admissível era "deve a mulher ser julgada?".



Henrique Raposo | 22:16 |

 

Absurdo II

Meu caro, a vida sempre foi determinável pela política. Nem preciso de te cansar com os mais diversos exemplos.

Enquanto quisermos viver em sociedade temos de aceitar limitações aos nossos direitos e suportar os deveres que esta nos impõe. O que nos divide de outras famílias políticas é a medida dessas limitações e o número dos deveres impostos. Por mim, acho que o Estado não deve interferir na decisão de uma cidadã que decide não estar em condições de assumir a sua maternidade.

Quando questionarmos as decisões políticas em nome da moral vamos pôr em causa toda a nossa estrutura social. De que moral falas ? A mesma que há meia dúzia de anos não permitia o divórcio ? A que há pouco tempo não permitia o voto às mulheres ? A que condenava à forca ?

Se há algo que, de facto, me “custa a engolir” é tu dizeres que não vais votar porque o teu voto nada irá mudar. Foi para isto que se inventou a democracia: para que sejam todos a decidir as chamadas “coisas” importantes.

De facto, a vida é trágica. Infelizmente, é mais trágica para alguns que para outros. O nosso compromisso tem de ser que ela se torne menos trágica para todos.


Pedro Marques Lopes | 20:54 | 0 comments

 

Datas do mundo pós-europeu

2006: Sul-coreano a liderar a ONU.
2008: Jogos Olímpicos na China.
2010: World Cup na África do Sul.

Henrique Raposo | 20:11 |

 

A twilight zone é...

... o direito de antena na altura do natal. De onde saem aqueles seres? Do manual de sindicalismo dos anos 30?

Henrique Raposo | 20:10 |

 

O absurdo de 2007 vai ser...

... uma multidão de gente a defender que a vida é determinável pela política. "Se o Estado diz que até às 10 semanas é possível abortar, então, só há vida no início da 11ª semana". Entregar à Política a responsabilidade para decidir a partir de que momento é que há vida, eis uma coisa que assusta. Sobretudo num país, o nosso, onde o Estado mete o bedelho em tudo. Parece-me uma daquelas caixas sem qualquer tipo de bombom lá dentro. Uma daquelas que diz “made in pandora”.

O aborto é uma questão moral. E a moral não começa às cinco e fecha à nove como a política, como a lei. O aborto é uma decisão moral com implicações pessoais que não são mensuráveis pela lógica da lei. Aborte ou não dentro da legalidade, o peso moral da decisão vai pesar na mulher em causa. Na política, as coisas são transmissíveis. Na moral, o que é nosso é nosso e ninguém pode acartar com o peso que tem o nosso nome. Em política, a culpa morre muitas vezes sozinha. Na moral, a coisa pia mais fininho: quando a culpa existe, existe mesmo e não vale a pena transferi-la para a política (dizendo que é legal) porque a dita vai continuar a atormentar. A culpa moral não se limpa pela lei.

Não vou votar. Nada será resolvido, seja qual for o vencedor. A política não consegue resolver todos os problemas. Há coisas imunes à política. Há tragédias sem solução. Custa a engolir? É a vida, trágica como os antigos a sabiam. Ela, a vida, não está aqui para nos agradar. Vamos continuar a discutir este tema. Se o “sim” vencer, daqui a 30 anos, voltará o debate e a proposta de novo referendo, quando o ar do tempo deixar o sim e voltar ao não. Nessa altura, farei copy paste deste post.


Henrique Raposo | 16:47 |

 

Livros do ano, VII

Pedro Mexia, Primeira Pessoa, Casa das Letras

1. Não vi todas as listas dos livros no ano, longe disso, mas aposto que este livro (que junta as crónicas da "grande reportagem", da autoria de Pedro Mexia) não apareceu em lado nenhum. É normal. Pedro Mexia é um dos poucos críticos literários a sério numa terra onde não se faz crítica por medo de ofender as capelinhas e amizades de liceu e faculdade. Ter Poder em Portugal é isto: "frequenta o liceu certo em Lisboa, e depois mantém os relacionamentos desse liceu ao longo da vida". É este o canal de Poder em Portugal. E o Pedro Mexia, quando critica, não liga a isso, e diz o que tem de dizer. Acrescente-se uma coisa: é de direita numa terra que ainda é tida como propriedade da esquerda. Tudo isto tem um preço: poucos falam do seu trabalho enquanto escritor, como este livro.

2. Depois, Mexia é o anti-português. Não se leva a sério. Coisa rara numa terra em que é comum as pessoas pensarem que são o centro das leis da física. Estas crónicas estão cheias de ironia e sarcasmo. Mas antes de lançar essa ironia sobre os outros (o pão nosso de cada dia entre nós), Pedro Mexia lança essa ironia melancólica sobre si mesmo. Em vez de apontar os defeitos dos "portugueses" e de "Portugal", Mexia recria as suas próprias fraquezas. Que não têm de ser defeitos. Como diz FJV, este livro "é o que é. Como a vida. Risível, presa na rede da melancolia". É este desprendimento que tanto irrita as pessoas. Oiço vezes sem conta: "mas por que razão aquele gajo escreve aquilo?"; "ele não vê que se está a expor?" e coisas assim. Mexia apresenta, na sua crónica do quotidiano, um desprendimento comum para lá da Mancha. Mas, entre nós, esse ar desempoeirado incomoda ainda esta Lisboa à sombra dos liceus de sempre. Somos o país de máscaras. Cada lisboeta tem máscaras à moda das sete saias. Cada corredor de poder lisboeta (seja que poder for: política, universidade, jornalismo, etc.) é um finge-finge pegado. Quem escreve sem as ditas máscaras (embora isso também seja uma máscara), quem apresenta uma face crua e despojada torna-se impopular. Mas muito lido...

3. Pedro Mexia, dizem, é poeta. Mas o que eu vejo é um prosador a descobrir a sua voz. O que vejo é um grande romancista ou contista a ganhar estofo. Mantenho a mesma impressão que sempre tive em relação ao Pedro Mexia: "este tipo vai escrever romances. E dos bons, daqueles que já ninguém escreve". Mas isto é só uma impressão. A minha.

Mais... só mesmo num número próximo da Atlântico.

Henrique Raposo | 14:46 |

 

Livros do ano, VI

John Milton, Paraíso Perdido, Cotovia.

1. Que se pode dizer de uma obra-prima com séculos de existência? O que se poderá escrever que já não tenha sido escrito em séculos de teses, recensões, encenações e livros sobre Paradise Lost de John Milton? Nada. Só podemos apontar uma arma à cabeça das pessoas e obrigá-las a ler isto. Não podemos fazer mais nada.
Não vale a pena ler todas as novidades, se não se leu coisas como esta. Não vale a pena saber os meandros da literatura que vai de 1990 a 2006, se nunca se passou os olhos por clássicos como este, que retrata em forma de longo poema épico a criação de Adão e Eva, a expulsão do Paraíso e a metamorfose de Lúcifer.


2. Este livro, escrito no XVII, somos nós. Ainda. A escolha, ter de escolher é o inferno. Lúcifer somos nós. O inferno alegórico da religião é o inferno real da escolha, do ter de escolher. O inferno da liturgia é a representação da guerra civil interior que existe naquele que assume o livre arbítrio. Ter liberdade, encarar a liberdade, assumir mesmo o livre arbítrio significa passar vida a cheirar a enxofre, digamos assim. É o peso da escolha. É o fardo da responsabilidade. Ter de acartar com as consequências. Este Satanás de Milton é cá de casa. Deus, com quem Lúcifer se confronta, é um estranho. Este Lúcifer vive uma guerra, interior, que reconheço na hora.

Henrique Raposo | 13:56 |

 

Livros do ano, V

Vasco Pulido Valente, Um Herói Português, Alêtheia.

1. Tirei História por causa de livros como este. Não continuei História porque livros como este são um OVNI na Historiografia portuguesa. Com alguma tristeza, fui pregar para outra paróquia.

2. Este é um livro de História à moda antiga. A única moda que interessa, diga-se. Sem os rebanhos de estruturas, gráficos, power points e demais gadgets que poluem a historiografia contemporânea. Uma historiografia feita pelos computadores e não pelo historiador. Feita de modelos exteriores ao que se analisa. Uma historiografia que esqueceu uma evidência: a História é feita por homens e não por conceitos anónimos como "mentalidades" ou "Poder". Uma historiografia que transforma Portugal numa coisa abstracta, sob o manto economicista. Uma história sem o drama da escolha, sem a angústia provocada pela incerteza em relação ao futuro. Uma história onde tudo está determinado, como se o historiador fosse um Merlin sem a bola de cristal mas montado em power point. Enfim, uma história sem gente dentro.

3. Não é por acaso que Vasco Pulido Valente, Rui Ramos, Fátima Bonifácio e, recentemente, Filomena Mónica são figuras esquecidas no ensino português da História. Parece impossível, mas é verdade: passei um curso inteiro de História em Portugal sem nunca receber uma recomendação para ler Vasco Pulido Valente. Nem por uma vez, uma única, um professor chegou junto da malta a dizer "leiam Vasco Pulido Valente". E, se a memória não me falha, também não aparecia nas bibliografias.

4. Aqui, Pulido Valente transforma um homem de um outro tempo, Paiva Couceiro (1861-1944), impossível de compreender pelas gentes de 2006, num homem real, tangível, com as suas obsessões, receios, raivas e excessos de cavaleiro romântico num tempo em que a política começava a ser coisa de tecnocratas sem paixão (Salazar). Percebemos o choque entre um D. Quixote (Coureiro) da (sonhada) grandeza imperial e o tecnocrata da pequenez do défice (Salazar). Nós sentimos, um século depois, o pulsar de Paiva Couceiro. Conseguimos respirar o ambiente político e social das épocas vividas pelo herói português. É esse o génio do historiador: transformar uma terra estrangeira, o passado, em algo de compreensível ao homens do presente. E isto sem transformar o passado num apêndice dos valores e percepções do presente. Não. É preciso compreender os homens do passado nos seus próprios pressupostos.

5. Junte-se a isto uma escrita trabalhada até à simplicidade (em Portugal, Pulido Valente é dos poucos a perceber que a simplicidade é o ponto de chegada da escrita) e temos um livro notável.

Henrique Raposo | 13:26 |

 

Redobrado prazer

“Como sempre, bom o artigo de Maria Filomena Mónica sobre Lisboa na revista Atlântico. Uma revista que se lê com redobrado prazer”.

Marcelo Rebelo de Sousa, Sol, 23 de Dezembro

Paulo Pinto Mascarenhas | 01:49 | 6 comments

 

D. Carlos de Rui Ramos



“Começo por num livro português, D. Carlos de Rui Ramos (Círculo de Leitores, 2006). D. Carlos é uma biografia que não é só uma biografia, é a história de uma época ou, mais precisamente, da decadência e queda do regime monárquico. Há muito tempo que não se escrevia nada de comparável. Céptico, penetrante, minucioso. D. Carlos diz mais sobre o país pobre e patético que nós somos do que toda a ‘análise política’ por aí à venda.”

Vasco Pulido Valente, Público, 23 de Dezembro

Paulo Pinto Mascarenhas | 01:45 | 2 comments

 


Paulo Pinto Mascarenhas | 01:34 | 0 comments

 

segunda-feira, dezembro 25, 2006

 

Livros do ano, IV

Murakami, Underground, Tinta da China.


Nesta edição, a Tinta da China juntou o Underground original (onde o autor entrevista vítimas dos atentados do metro de Tóquio) e uma obra posterior O Lugar Prometido (onde se entrevista membros da seita Verdade Suprema). Para uma Atlântico próxima, escreveu-se sobre a primeira parte. Aqui ficam algumas notas sobresselentes sobre O Lugar Prometido. O que vai na cabeça das pessoas que se entregaram ao fanatismo da Verdade Suprema (Aum Shinrikyo)?


1. A questão surge sistematicamente: mas por que razão (depois de séculos de utopias falaciosas a cantar amanhãs que, afinal, nunca chegam) os homens continuam a acreditar nas utopias? Ao ler este livro, encontramos um caminho de resposta: as utopias têm sucesso não porque cantam um amanhã glorioso, mas porque põem fim à angústia no presente. Aquele que renunciava ao mundo (palco da incerteza, do confronto com outras pessoas, onde existe o fardo da escolha) entrava num espaço, a seita, onde existe uma verdade, um caminho, uma identidade acima das dúvidas, um modo de vida de paz absoluta. As pessoas estavam em paz porque existia alguém a decidir por elas: o guru. Se V. está indignado, convém moderar as críticas. Melhor: convém criticar mas nunca a partir de uma lógica exterior, como se isto fosse um fenómeno não-humano, como se V. estivesse imune a isto. Nada é mais humano do que esta fraqueza. Todos nós somos vulneráveis a esta tentação totalitária. As pessoas que aderiram à Aum «são pessoas que vivem vidas vulgares […] essas pessoas podiam muito bem ser eu. Podiam ser vocês» (p. 461).

2.
A Aum libertava o crente da necessidade de pensar por si mesmo. Dentro do clube, o crente renunciava ao fardo da liberdade: ter de escolher. Murakami encontrou no Japão um mecanismo que no Ocidente ficou conhecido por Vontade Geral. Ao integrarem-se no Nós colectivo, cantado por Shoko Asahara (o líder espiritual da seita), os renunciantes do mundo atingiam uma paz de espírito impossível de alcançar no mundo real. Colocavam a sua vontade nas mãos de Asahara. Renunciavam à sua liberdade porque a harmonia que buscavam só pode existir após a renúncia da liberdade.
A Liberdade não cria harmonia. Cria conflitos e tensões que existem em cada homem. Por isso, é tão fácil e tão recorrente a emergência das ditaduras. Porque o ditador sossega os homens que já não suportam o peso da liberdade. A liberdade não é natural como julgam os americanos. Infelizmente. É a maior construção política. Uma construção que, pela sua artificialidade, necessita de constantes reparações, como se vê no Portugal das ERCs de hoje.

3. Outra questão que costuma surgir: mas como é que as elites se deixam seduzir pelo fanatismo? Uma pergunta ingénua: «[...] foi não ter sido apesar de fazerem parte dessa elite que aquelas pessoas tinham ido naquela direcção, mas precisamente porque faziam parte da elite» (p. 457). É o dilema que atormenta George Steiner: como é que uma pessoa que ouvia Beethoven às cinco ia matar judeus às seis? É o dilema que pressente o fim da ilusão da modernidade: que conhecimento gera ética. Esta ilusão foi exterminada em Auschwitz e no Gulag. A morte da ética foi elaborada pelos donos do conhecimento.
Ninguém é mais permeável ao fanatismo do que a elite que detém um conhecimento técnico que pode aperfeiçoar o Homem. Julgam que têm a verdade, logo, precisam do poder para a impor à população. Notável o exemplo de Hiroyuki Kano, mago informático da Aum, que se preocupava em «encontrar um método que prove matematicamente o budismo» (p.340) e que diz que «se, ao matar alguém, tornássemos essa pessoa mais feliz por ter morrido do que teria sido se continuasse a viver a sua vida estaríamos a elevá-la» (p. 347). O ópio intelectual bem conhecido no ocidente.



4. Em suma, a libertação e autonomia do Homem, defendidas pelo humanismo e iluminismo, podem ser um fardo doloroso que muita gente não consegue suportar. Comunismo e Fascismo fizeram-se desta recusa. A psique no crente na Aum, aqui analisada por Murakami, é a psique dos homens que se entregaram ao comunismo, ao fascismo, ao islamismo: conforto ético absoluto que anula a angústia da escolha, que supera o fardo da responsabilidade, que faz desaparecer a angústia da incerteza (não ter de pensar será que fiz bem? deve ser, de facto, um alívio). Esta transferência de responsabilidade do indivíduo para um colectivo explica o sucesso de todos os fanatismos, seculares ou religiosos. E outra coisa. Existe sempre a ideia de que o ditador impõe unilateralmente o controlo mental. Errado. Tal como no fascismo e comunismos ocidentais, estes fiéis japoneses não eram vítimas passivas de uma mal exterior. Eles procuram o Bem, e o Bem era a Aum. Eles procuram voluntariamente ser controlados por Asahara. «o controlo mental não é algo que se possa obter ou entregar de modo tão simples. É uma dança a dois» (p.312).

Henrique Raposo | 21:32 |

 

O Nada de Deus

Torna-te como criança:
Faz-te surdo e cego!
Torna-te nómada,
Atravessa o que é ser,
E o que é nada!
Abandona o lugar,
Abandona o tempo
Abandona as imagens.
Se seguires sem destino
Pelo trilho estreito
Alcançarás o centro deserto.

Ó minha alma
Sai para fora, Deus entra!
Funde todo o teu ser
No nada de Deus.
Derrama-te no caudal sem fundo!
Se saio de ti
Tu vens até mim.
Se me perco
É ati que encontro.
Oh quem pudesse medir tua vastidão!


Mestre Eckhart in “A Oração dos Homens” (o meu melhor presente de Natal)

Pedro Marques Lopes | 20:05 | 0 comments

 

Malhas do ano, II

1. No início do ano, falou-se muito do regresso do cinema político a Hollywood. O europeu adora ver americanos a criticar a América. Como se isso legitimasse o seu anti-americanismo. Só não percebe que essa auto-crítica é uma das forças americanas. Só não percebe que, precisamente, não existe essa auto-critica entre europeus. Não raras vezes, ouvi pessoas a dizer que Hollywood tinha produzido cinema europeu.

2. Lamento desiludir este paternalismo europeu, mais um, mas Hollywood não importou nada da Europa. “Boa Noite, e Boa Sorte” não poderia ser mais americano. É uma recuperação de uma das mais velhas heranças do cinema americano: o cinema liberal de forte questionamento político, social e cultural, presente em todas as décadas, com destaque para a “década perdida” (anos 70). “Boa Noite, e Boa Sorte” tem raízes em Sydney Lumet (“Network”, 1976), Alan J. Pakula (“All the President’s Men”, 1976) ou Michael Cimino (“Caçador”, 1978; “Heaven’s Gate, 1980). Este espírito liberal consagra a rebeldia, a liberdade total de crítica, a desconfiança em relação ao Poder. Clooney é tudo menos europeu. Aliás, quem me dera ter um Clooney europeu.

3. “Boa Noite, e Boa Sorte” não é um filme de causas. Entenda-se aqui “causa” como algo destinado a alterar, de forma substantiva, a sociedade. Murrow defendia, isso sim, o papel clássico do jornalismo numa sociedade livre: o de ser um contra-poder. O jornalismo é, tal como a Justiça, um dos vigilantes do poder político. No caso concreto e relatado pelo filme, Murrow não estava a defender uma causa. Não estava a defender substantivamente os comunistas. Estava a criticar os excessos de poder processual de um Senador. Murrow não comandou uma causa destinada a mudar a lei, como é tão comum no jornalismo de causas de hoje. Murrow defendeu somente a lei e a liberdade. Contra o Poder político. Hoje, os jornalistas das causas aliam-se ao poder político no sentido de impor, por exemplo, as norma de comportamentos do homem medicamente perfeito (as campanhas anti-tabaco, anti-comida não saudável, etc). Há uma certa diferença.


4. Invejo a vitalidade crítica americana. Como eu gostava de ter um Ed Murrow ou um Clooney aqui na Europa. Um Murrow que contestasse a actual informação televisiva que, na verdade, não faz jornalismo mas demagogia politicamente correcta, muitas vezes a serviço das diversas verdades do regime. Tanto que eu queria um Murrow que criticasse um ambiente intelectual que é capaz de fazer greve em nome do direito à masturbação do golfinho da Arrábida mas que fica impávido e sereno perante ataques à liberdade de expressão. Gostava, sim senhora. Gostava de ter um Murrow. Gostava de ter um Clooney. Até gostava de ter um Michael Moore.

5. Coisa notável: ver um filme onde todas as personagens fumam em todas as cenas. Um alívio. Quem escreve estas linhas não fuma. Quem não perceber o porquê da defesa do direito a fumar por parte de um não-fumador, então, nunca poderá perceber a dimensão ética e política do clássico cinema liberal americano aqui recuperada por George Clooney.


Henrique Raposo | 17:08 |

 


EDIÇÃO Nº 25

ABRIL 2007

...

A NOSSA REVOLUÇÃO DE ABRIL - A SÉRIO E A BRINCAR
por RUI RAMOS E 31 DA ARMADA

O MAIS IMPORTANTE AINDA ESTÁ POR FAZER!
por ANTÓNIO CARRAPATOSO

A VELHA EUROPA E A NOVA INTEGRAÇÃO EUROPEIA
por VÍTOR MARTINS

DOIS ANOS DEPOIS
por JOÃO MARQUES DE ALMEIDA, LUCIANO AMARAL e PAULO PINTO MASCARENHAS

COMO O ESTADO MATOU O COZINHEIRO ALEMÃO
por PAULO BARRIGA

O PACTO
por PEDRO BOUCHERIE MENDES

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Um programa de opinião livre e contraditório onde o politicamente correcto é corrido a 4 vozes e nenhuma figura é poupada.

Com a (i)moderação de Antonieta Lopes da Costa e a presença permanente de Paulo Pinto Mascarenhas. Sexta às 19h10.

Com repetição Domingo às 11h00 e às 19h00.

 

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O INOMINÁVEL

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