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quinta-feira, agosto 31, 2006

 

Bruckner, Levy, Glucksmann

1. Pascal Bruckner. André Glucksmann. E até mesmo Bernard-Hénri Levy. Três autores que descubro com enorme prazer. E proveito. Há nos franceses de espírito livre (aqueles que não se sentem obrigados a ser desta ou daquela tribo) uma coisa que raramente encontramos nos autores do mundo inglês: a recusa total do politicamente correcto – essa doença americana. Por outras palavras, não têm papas na língua, não se deixam aprisionar com a chantagem do “racismo” e demais armadilhas. Respiram liberdade. Soltos.
Dizem-me que foram fundamentais há 30 anos na crítica ao comunismo. Saíram da esquerda, revoltaram-se. Daí o título de nouvelle philosophes. Hoje, repetem a dose. Se ajudaram a destruir o marxismo, hoje também ajudam, e muito, no confronto com os substitutos do marxismo: o anti-americanismo, o multiculturalismo.

2. O multiculturalismo, não se sabe bem porquê, passa por progressista. Disparate de todo o tamanho. Não há nada mais romântico – no sentido político – e reaccionário do que o multiculturalismo. É o nacionalismo das minorias. Esta doutrina amada pela esquerda é o ressurgimento do movimento político romântico (XIX, XX) que insistia na identidade de sangue e cultura contra as ideias progressistas/universalistas do Iluminismo. Se alguém é de esquerda/progressista e, simultaneamente, concorda com o multiculturalismo, das duas uma: não sabe o que é a esquerda; é da velha direita sem o saber. Há uma terceira hipótese: é uma fraude.

Multiculturalism: Nationalism of the Minorities, Pascal Bruckner.

3. O problema do anti-americanismo é que critica aquilo que a América tem de positivo: um pluralismo guerreiro (que não permite que qualquer utopia, religiosa ou política, controle em absoluto), o único projecto político totalmente baseado na lei e não no sangue ou cultura monolítica. A América é odiada porque representa aquilo que restou da modernidade política dos séculos XVIII, XIX e XX. Os fanáticos religiosos e da cultura não perdoam essa modernidade legal que usurpa a comunidade, deus e afins. A outra modernidade, a marxista, a derrotada, não perdoa, claro, o sucesso da modernidade liberal americana.

Anti-Americanism in the Old Europe, Bernard-Hénri Levy

Henrique Raposo | 22:52 | 1 comments

 

Separados à nascença (esta malta que anda a fazer filhos pelas américas)


Tony Almeida (do 24), Tom Waits e o nosso Polga.
ENP

Eduardo | 19:28 | 0 comments

 

Sinal político

Manuel Falcão sobre o fecho de "O Independente". Assino por baixo.

Paulo Pinto Mascarenhas | 18:29 | 1 comments

 

As minhas dúvidas

Vai interessante o debate na Atlântico sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O artigo que o Adolfo Mesquita Nunes assina este mês, em resposta a um anterior, do Pedro Picoito, tem as características que são proverbiais no Adolfo: boa escrita e tese persuasiva. No entanto, cai no erro frequente de misturar os conceitos de "casamento entre pessoas do mesmo sexo" e "casamento homossexual", o que, para os efeitos da discussão - que se quer dentro dos parâmetros do direito e do entendimento acerca dos limites do estado -, não é, de todo, a mesma coisa.

Falar do reconhecimento pela lei do "casamento homossexual" é admitir a sexualidade (ou, por maioria de razão, a homossexualidade/orientação/opção sexual) como assunto político e como algo que deve ser ponderado na produção legislativa. A questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo prende-se com o reconhecimento de direitos civis. Trata-se de saber se deve haver discriminação entre uma pessoa que quer casar com outra de sexo diferente e uma pessoa que quer casar com outra do mesmo sexo. Apenas isto.

Por isso é que não é sequer uma questão de direitos dos homossexuais. Um homem heterossexual pode levantar exactamente a mesma questão. Pode querer casar-se com outro homem heterossexual. A lei não é feita em consideração das orientações sexuais de cada um. Era o que mais faltava.

O problema é que, chegados a este ponto, a discussão coloca-se-nos noutros patamares. Não será igualmente uma discriminação eu não poder casar com duas ou mais mulheres? Com dois homens e três mulheres? Com a minha irmã? Se se se trata, no fundo, de uma questão de liberdade contratual, de livre conformação de relações tendentes a uma plena comunhão de vida (na verdade, é o que é), a discussão deve fazer-se igualmente nestas dimensões.

É que, em rigor, ao contrário do que diz o Adolfo no artigo da Atlântico (é o problema de andar sempre com a bússola liberal), não estamos perante a regulação estatal da vida afectiva dos indivíuos. Não me parece líquido que o Código Civil (apesar dos deveres dos cônjuges - respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência) regule a vida afectiva das pessoas casadas. Logo, não é por impedir uma qualquer institucionalização dos afectos que a lei é discriminatória. É por impedir a qualquer pessoa a institucionalização de uma vida em comum com outra pessoa do mesmo sexo.

Aliás, se, como se diz no artigo 1577º do Código Civil, o casamento é "o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida", a discriminação legal é muito mais escandalosa relativamente aos homens e às mulheres que gostariam de casar, respectivamente, com mais de uma mulher e mais de um homem. Se a lei diz que o casamento é para constituir família, então mais rapidamente se deveria reconhecer o casamento polígamo do que o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Claro que aqui a questão é de resolução relativamente fácil, pois existem no direito português as cláusulas da ordem pública e dos bons costumes que, em última análise, impedirão sempre o reconhecimento dos casamentos polígamos ou entre familiares directos. Mas essas cláusulas poderão igualmente ser invocadas para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E onde é que se traça a linha?

Daí que, se juridicamente (em termos de direitos da pessoa enquanto pessoa) é até fácil fundamentar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, politicamente é muito mais fácil justificá-lo como uma questão de direitos de uma minoria que se identifica pela orientação sexual. Balizada assim a discussão, não entrarão em jogo aquelas consequências lógicas e não se assustará quem se pretende persuadir.

As complicações virão quando houver uma minoria audível e visível do polígamos.

Eu, que sou daqueles liberais com "conservador" antes do hífen, tenho as minhas dúvidas.

Anónimo | 18:17 | 2 comments

 

As mudanças em função do outro

Há um problema óbvio de timing nas mudanças que estão a ser realizadas no "Expresso" - de que fala o Tiago Geraldo mais abaixo (para quem não percebeu a ironia clique no título do poste "Expresso do Futuro"). É que parecem ser feitas unicamente em função do anúncio do aparecimento do "Sol", o que demonstra algum receio em relação ao novo competidor. Neste mercado cada vez mais competitivo, não interessa nada demonstrar medo. Quando olharmos para o novo "Expresso" vamos pensar no "Sol".

Paulo Pinto Mascarenhas | 18:13 | 0 comments

 

"Os jogos já estavam feitos"

Bom furo do "Diário de Notícias" a primeira entrevista de Mário Soares desde a derrota das presidenciais. Diga-se o que se disser - e eu fui um dos que disse aliás alguma coisa - Soares pai continua a ser uma figura bem mais interessante do que muitos políticos da geração de hoje. Sente-se, na entrevista - versão integral no jornal - que ainda está sentido e que ainda não percebeu muito bem porque perdeu de modo tão colossal nas últimas presidenciais, mas sempre é alguém que gosta de viver e esse gosto explica a própria personagem política. A ler.

Paulo Pinto Mascarenhas | 17:51 | 1 comments

 

Odeio, logo existo

1.Texto de Pedro Mexia sobre um livro de José Gil (Monstros), intitulado “Amado Monstro” – num dos suplementos “6ª” do Diário de Notícias deste mês.
Monstros? Para que serve a concepção do monstro? Por que razão os inventamos? Resposta: “o monstro humano está unicamente para que o homem possa ter uma ideia estável de si próprio”. O monstro é a minha identidade reflectida num excesso de realidade; um excesso exterior que ajuda a definir, por oposição, a minha identidade interior.

2. O diabo serve para estabilizar a imagem de deus. O Ocidente decadente e monstruoso serve para estabilizar a auto-imagem do radicalismo islamita. E, num dos factos mais notáveis – pela sua dimensão -, a América monstruosa é a fórmula perfeita para a extrema esquerda fixar uma identidade possível depois dos fracassos do passado e do presente. A América do anti-americano não é a América real: complexa, confusa, cheia de matizes. O anti-americano não quer conhecer, não quer uma imagem complexa da América. O ódio é básico. Precisa de coisas básicas e sem muitas curvas apertadas. Curvas implicam lentidão e raciocínio. A América do mito, a América da monstruosidade, é uma extensa recta onde o anti-americano joga o seu ódio a alta velocidade. Sem pensar. Onde apenas se sente emoção.

3. O monstro americano – uno, estável, imóvel na sua desumanidade capitalista, perfeito nessa maldade, sem contradições internas, no fundo, com escamas e a deitar fogo pelas ventas, é a única coisa que resta à velha esquerda. Na dramaturgia revolucionária de hoje, a América “faz” de mau actor, daqueles actores que levam com tomates e alfaces. É o alvo perfeito para se lançar o ódio do revolucionário. E lançar esse ódio é a única actividade aos revolucionários.

4. A América é a guardião da velha esquerda. A América protege a Esquerda. A América do mito impede a esquerda de se confrontar com as suas próprias fraquezas. Se a América amanhã acabasse num apocalipse qualquer, a esquerda radical acabaria também. Por isso, vemos este esforço colossal no sentido de manter vivo as labaredas do monstro. Porque é ele, esse monstro americano, que mantém a identidade. Sem esta América para odiar, o revolucionário corre o risco de deixar de saber o que é, corre o risco de deixar de sentir aquela emoção pura “de ser-se esquerda”, aquela emoção dramática “de estar do lado certo”. Contra os monstros.

Henrique Raposo | 17:32 | 3 comments

 

A admirável universidade nova

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Para que não restem quaisquer dúvidas e perante algumas críticas que recebemos, a responsabilidade do título de capa "Abominável Universidade Nova" (que remete para o artigo no interior com o título "Admirável Universidade Nova", este sim assinado por Maria de Fátima Bonifácio) é inteiramente minha, como director da Atlântico.
Como me parecia óbvio, o adjectivo "abominável" deveria ser lido com ironia, não pretendendo pôr de modo algum em causa a importância da Universidade enquanto instituição e dos professores universitários em geral, não se referindo também a qualquer universidade em especial. Muito obrigado.

Paulo Pinto Mascarenhas | 14:19 | 14 comments

 

A obsessão do professor de Boticas (tragédia em quatro actos)



I

Professor primário de Boticas:
- Portas, Portas, onde estás tu ó Portas, estás ali certamente, estás aqui também, vejo a tua sombra por todo o lado, no Índico e no Atlântico!

II

Atlântico, surpreso, mas ligeiramente divertido:
- Bates tanto e tão entusiasmado nas portas erradas: mas para quê, barbudo senhor? Para ser contestado, ouvido, replicado, já não despertas o interesse de outrora, as elites não te escutam e a audiência média não te basta, professor?

III
(barbudo senhor)
- Portas, volta Portas, preciso de bater às portas, que alguém me dê troco, é isso, desde que fui preterido e esquecido pelo meu senhor.

IV

(silêncio e indiferença geral)





Paulo Pinto Mascarenhas | 13:52 | 10 comments

 

Expresso do Futuro


Tiago Geraldo | 03:11 | 2 comments

 

Ainda a morte de Deus

Este ao menos não metia gel.

Tiago Geraldo | 02:48 | 0 comments

 

quarta-feira, agosto 30, 2006

 

Liberdade

Não me apetece nada fazer a autópsia nem carpir lágrima a propósito do destino anunciado para «O Independente». As coisas são o que são. Mas, pegando nas palavras do PPM, vale sempre a pena lembrar aquele jornal como um espaço de liberdade irrepetível. Só por isto merecia viver mil anos.

vc

vc | 22:18 | 5 comments

 

Trancado à chave, deus fica em casa

Ainda deus e a América.

1. Sobre este assunto, este filme vale muito a pena: “Inherit the Wind”, de Stanley Kramer e com Spencer Tracy. No meu livro, um clássico. Quando Hollywood era Hollywood. Um exemplo do chamado cinema liberal americano. Um filme que “luta” pela liberdade; científica, neste caso. Um combate contra a demagogia religiosa que tem sempre a predisposição para criminalizar opiniões contrárias. Realizado em 1960 (sobre o famoso Monkey Trial, 1925), continua actual. Há ainda gente com dificuldade em conviver com as teorias da evolução. E saliento conviver. Não se trata de aceitar. Não está em causa saber se a teoria da evolução é verdadeira ou não. O que está em causa é o direito de essa teoria ser divulgada e ensinada; ensinada não como verdade mas como uma teoria. Tal como a fé não é a verdade, mas apenas uma fé.

2. Depois do 11 de Setembro, muitos moralistas religiosos americanos como que “justificaram” o acto terrorista. Que disseram? Que, de facto, os islamistas têm alguma razão: a sociedade americana é decadente e, por isso, foi castigada. Uma sociedade viciada no sexo e que não respeita a mulher. Pois, Atta, de facto, também pensava assim. É por estas e por outras que a mini-saia e o umbiguinho à mostra são sinais de liberdade. A (suposta) decadência rima com liberdade.

3. Um dos mais prestigiados colunistas da direita religiosa, Michael Novak, gritou aos ouvidos de bin Laden: “don´t call me secular”. E afirma que a América não é uma nação secular. Disparate provocado pelo elevado índice de religiosidade no neurónio. O problema é que Novak fala de uma América mistificada e não da república constitucional Estados Unidos da América. Coisa mais complexa. Os EUA são uma nação secular com uma sociedade religiosa. E esta confusão entre política e sociedade é típica daqueles que têm dificuldade em aceitar a separação entre moral religiosa e Politica de estado.
Cada nação deve manter a sua fé. Na sociedade. Isso dá-lhe força enquanto comunidade. Dá-lhe solidariedade. Dá-lhe alma, vida. Mil vezes uma sociedade religiosa a um antro de ateísmo programado e ideológico. Mas uma coisa é a sociedade, outra coisa é o Estado. Quando a fé entra no Estado, deixa de ser fé e passa a ser fanatismo.

4. Muitos moralistas como Novak afirmam, com frequência, que os conservadores são superiores aos liberais porque têm fé. Dois problemas. Primeiro, a moralidade não está dependente de uma fé monoteísta. Cícero, antes de ser um nome porreiro para centro-avante, é nome do primeiro homem que concebeu uma moral universal baseada na pessoa humana (aliás, inventou a ideia de pessoa); séculos antes de Cristo. Um dos erros do crente moralista é pensar que moral = deus (já agora, um dos erros do ateísmo relativista é pensar que a morte de deus significa o fim da moral; o fim da moral sucederá com a morte do homem e não de deus; já se tentou muita vez, mas o homem ainda por aqui anda). Segundo problema: conservadorismo não é sinónimo de deus. Infelizmente, o velho conservador céptico, na América, é como o panda de outrora: está em vias de extinção. Conservadorismo Americano (e não só) significa, cada vez mas, fé, deus, utopia. Ou seja, não é conservadorismo.
Sou conservador. Sou agnóstico. Graças a deus.

5. A identidade da sociedade americana sempre foi religiosa. OK. Mas deus é como o cão: fica à porta do escritório; não acompanha o dono até ao trabalho.

6. Deus escreve-se com caixa baixa: deus. Deus é para banda pop.

Henrique Raposo | 21:29 | 5 comments

 

A América e deus

1. Um dos dados mais preocupantes na América de hoje é a sua crescente religiosidade. Uma religiosidade assanhada, que gosta de morder e de afincar as unhas nas costas dos políticos. Um governante que vê a política com lentes religiosas está destinado a dizer e fazer disparates. Deus está para a política, como o sexo está para a freira: tentação que convém deixar no fundo do baú.

2. O jacobinismo europeu (o outro dogmatismo religioso) quando crítica a religiosidade americana de forma total (religião = obscurantismo) revela o seu eurocentrismo, isto é, esquece-se de uma coisa: na América, ao contrário do que sucedeu na Europa, religião foi sinónimo de liberdade. América foi fundada pelos dissidentes da dissidência religiosa. Na Europa, o iluminismo fez-se contra a igreja. Na América, a liberdade andou de braço dado com as diversas seitas religiosas. É bom ter isto em mente. Religião não é sinónimo de idade média.

3. Mas interessa ter em atenção os excessos religiosos que aqui e ali marcam a vida americana de hoje.
Fala-se com insistência que a direita religiosa quer mudar a constituição apenas para impedir o casamento homossexual. Demagogia. Ultramontanice moral da grossa. Quem acha que o casamento homossexual é imoral – legítimo como qualquer opinião - não pode transformar isso em algo de ilegal – ilegítimo. Mudar a lei para impor uma agenda moral não é acto digno de um estado de direito.

4. O problema não é a fé per se. Um mundo sem fé seria um mundo cinzento (a grande arte está sempre ligada a qualquer coisa de religioso). Um mundo sem fé seria um mundo mecânico, totalitário, sem a humanidade tal como a reconhecemos. O problema é a política, rameira, estar enrabichada com a fé, donzela. Bush afirma que a liberdade é uma prenda de deus para o Homem. Por isso, Ignatieff fala em “providencialismo democrático” na política externa. Não se percebe metade dos erros da administração sem a análise desta visão teológica de Liberdade. Liberdade grandiosa, coisa épica, como naqueles filmes de discursos de lágrima no olho, e não as liberdades constitucionais, coisa chatinha, de juizinho careta e advogado careca.
John Ashcroft, quando se despediu do cargo de Attorney General, agradeceu ao seu staff, mas afirmou que a América não sofreu outro ataque terrorista devido à acção de deus. Ou seja, não houve outro 11 de Setembro porque deus está com a América. O esforço de milhares de pessoas é coisa de somenos.

5. Muita gente irrita-se com a insistência, em discursos políticos, do “god bless america”. Mas isso é uma simples demonstração de uma fé. Nada de mais. Uma coisa é ter um político que acredita em deus; outra coisa é ter um político religioso que mistura alhos políticos com bugalhos religiosos. O problema não é a crença em deus, mas a justificação de actos políticos com a verdade revelada. O problema é a acção política motivada por um imperativo moral retirado da religião.

Henrique Raposo | 19:52 | 1 comments

 

A ler

A matrioshka do gás, de Fernando C. Gabriel, no The Guest of Time.

A seguir recomenda-se que compre a revista Atlântico, amanhã nas bancas, nem que seja só para ler o FCG e As Guerras da Ilha-Mundo.

Paulo Pinto Mascarenhas | 19:46 | 0 comments

 

Adeus

O Independente vai acabar. Não sou da era clássica (Portas, MEC, VPV). Mas sou de um tempo que é um clássico recente. O tempo em que a sexta era dia religioso porque ia ler Rui Ramos, João Marques de Almeida, Luciano Amaral, Vasco Rato, Victor Cunha, João Pereira Coutinho, Pedro Lomba, Pedro Mexia, Leonardo Ralha, Pedro Marta Santos e o PPM. Aprendi com todos. À distância. Hoje, sem saber bem como, escrevo ao lado deles. Sem o Indy não teria sido possível. Foi, durante muito tempo, a referência que me permitiu manter o rumo e pensar que "afinal, não sou doente". Sem o Indy, seria provavelmente um sindicalista pós-moderno dependente do rendimento mínimo para alimentar um rebanho de filhos mal amanhados. Obrigado a todos. Obrigado ao Indy. Que volte numa segunda aparição.

Henrique Raposo | 19:14 | 8 comments

 

Ao contrário de muitos



Entristece-me muito o fim d' O Independente, um jornal a que voltei a dar a minha colaboração nos últimos tempos, em parte na esperança de o poder ajudar a ressuscitar. Não foi possível. Eu sabia que não seria possível.
Entristece-me, em primeiro lugar, por razões pessoais, porque foi ali que comecei como jornalista do Internacional e nessa condição passei momentos únicos da minha vida, viajando de Angola a Moscovo, entrevistando de Jonas Savimbi a José Maria Aznar, reportando da Bósnia a São Tomé. Foi como jornalista d' O Independente que aprendi com os meus erros e cresci como profissional.
Entristece-me também pelos amigos que lá tenho, desde a directora à querida recepcionista, passando pelos jornalistas que são do melhor que um dia conheci (um grande abraço a todos e boa-sorte que vocês todos, sem excepção, bem a merecem).
Entristece-me ainda como amador de jornais porque o espaço de liberdade e irreverência que O Independente um dia ocupou vai continuar vazio - e o seu encerramento, sobretudo coincidindo com a altura em que desponta o "Sol", representa o fim de uma época. Nunca como hoje, foi tão necessário um semanário com as características do Indy, longe das meias-tintas do centrão, certamente mais cuidado em alguns aspectos, mas com o mesmíssimo sangue na guelra.
Alguns poderão negá-lo, mas a verdade é que, apesar de alguns erros de percurso - que vistos agora são de aprendiz perante as manipulações informativas e políticas a que se assistem - O Independente mudou a forma e o modo de se escrever em jornais e até a própria linguagem televisiva (o próprio Emídio Rangel o reconheceu há uns tempos).
Muitos que o criticam, esquecem-se do jornal de MEC, Paulo Portas, Vasco Pulido Valente, João Bénard da Costa, Maria Filomena Mónica, Leonardo Ferraz de Carvalho, Agustina Bessa-Luís, Manuel Falcão, Laurinda Alves, Constança Cunha e Sá, Pedro Rôlo Duarte, Inês Serra Lopes - e tantos, tantos outros talentos, tantas descobertas, incluindo actuais cronistas consagrados, jornalistas de televisão e directores de jornais ou revistas.
O Independente faz falta e algum dia vai ter de voltar.

Paulo Pinto Mascarenhas | 18:00 | 5 comments

 

Comunismo: condomínio de luxo

Jerónimo não está sozinho. Parece impossível, mas ainda há quem diga que podemos aprender muito com Lenine. O comunismo é mesmo um condomínio de luxo. Vive-se à parte. Um condomínio acima do bem e do mal, acima da história. Em circuito fechado. Não argumentando com o exterior, apenas catequizando quem já está convertido.

Henrique Raposo | 16:56 | 2 comments

 

A origem da Origem das Espécies foi há um ano

Parabéns ao Francisco.

Anónimo | 16:13 | 1 comments

 

Ódio: o bem de primeira necessidade do revolucionário

Os livros escolares dos alunos palestinianos não se referem à existência do Estado de Israel. Nos seus tempos livres, vão para campos de férias onde se cultiva o ódio a Israel e se aprende as virtudes guerreiras para se alcança a “vitória final”.

João Marques de Almeida

Henrique Raposo | 10:55 | 3 comments

 

A bem da moral e bons costumes

Tenho para mim, que há dois temas da actualidade que um cidadão com algum pudor não deve abordar: o “caso Mateus” e o “renascimento político” do inefável Manuel Monteiro.

Pedro Marques Lopes | 02:05 | 1 comments

 

terça-feira, agosto 29, 2006

 

Ainda Grass

Mas confirma-se que se deve desconfiar desta gente que aceita vestir a pele de "consciência moral". A vida segue, como de costume.

Francisco José Viegas

Henrique Raposo | 20:45 | 2 comments

 

Ficaram surdos ?

Compreendo que os autores do “Quase Famosos”, sabendo do meu amor pelos “Smiths”, me quisessem prestar esta bela homenagem. Muito agradecido. Podem recomeçar a escrever.

Pedro Marques Lopes

Pedro Marques Lopes | 19:22 | 0 comments

 

Por outro lado

Na minha vida interessa-me mais saber do esforço e da coragem que é preciso para não ter medo e continuar a lutar por ideias, quase sempre com dificuldades, num país em que muitos preferem dedicar-se ao puro disparate e à mais cobarde maledicência. Recomendo este texto do André Abrantes Amaral, publicado ontem na Dia D, uma revista cada vez mais recomendável.

Paulo Pinto Mascarenhas | 18:41 | 2 comments

 

Ceci n'est pas un libéral

Desconheço que tipo de ressentimento ou ressabianço (porque é isso que parece ser) faz mover Carlos Abreu Amorim contra a Atlântico. Eu, que também não gosto de muita gente, não é por isso que me transformo num stalker desvairado. Por exemplo, apesar de não o conhecer pessoalmente, eu não gosto do Carlos Abreu Amorim. Mas não faço disso modo de vida.

Deixem-me, no entanto, explicar. Eu não gosto de tresloucados obsessivos - a não ser dos que têm piada (é deles que é feita alguma da melhor arte, literatura e música), algo completamente ausente da escrita do senhor. E não gosto, também, de impostores. Ora, o Carlos Abreu Amorim, que se diz "o" liberal clássico, há muito que, quanto a isso, se me revelou um impostor.

E porque a blogosfera política portuguesa, na sua estimável idade, tem uma pouco conhecida pré-história e uma prestimosa arqueologia; e já que estamos numa de velhas recordações, deixo um exemplo do afã liberal do nosso Carlos, que em tempos imemoriais levou a uma acesa troca de emails entre o NQdI e o Mata-Frades (perdão: Mata-Mouros).

(Está tudo aqui).

«Não são os comportamentos folclóricos do movimento "gay" que me preocupam. Os meus receios dirigem-se aos que desempenham cargos públicos, nomeadamente de natureza política, e que longe de assumirem a sua opção homossexual tudo fazem para a esconder. O que justifica estas minhas apreensões? – perguntar-se-á. Essencialmente o acto de ocultar uma componente importante, mesmo determinante, do “eu” da pessoa em causa. Que sendo alguém que desempenha um cargo político, deverá ser conhecida do grande público. Na sociedade hiper-mediatizada em que vivemos estão à disposição das pessoas informações exaustivamente circunstanciadas da vida pessoal dos que se tornaram famosos. É possível sabermos como vivem, que automóvel têm, qual a sua gastronomia preferida, peculiaridades das suas parentelas e as vicissitudes das suas relações. Os políticos não escapam a esta lógica. Nem devem. A sua vida fiscal é pública, as suas contas bancárias são vigiadas, as pessoas querem saber pormenores da sua vida familiar, entrevistam-se os antigos colegas de liceu, esquadrinham-se os aspectos mais recônditos das suas biografias.
Nas democracias abertas do nosso tempo, as pessoas entendem ter o direito de saber o mais possível acerca de quem os governa ou que poderão vir a fazê-lo. Nestes termos, a opção sexual de um político deixa, inexoravelmente, de ser um assunto privado. Pelo contrário, se a quiser esconder, camuflar ou iludir, ensaiando atitudes que visem anunciar o inverso daquilo que ele é, então o problema passará a ser outro – esse político está a mentir! Ao pretender transmitir publicamente um elemento primordial da sua personalidade que é algo que não corresponde à verdade, transforma-se em alguém que não é digno de merecer a confiança das pessoas. O acto de encobrir aquilo que se é – isso sim! - está muito mais próximo da perversidade do que qualquer opção sexual que se possa livremente adoptar».


(...)

«Será justo considerar que os políticos não têm direito à privacidade na sua escolha de orientação sexual se esta é reconhecida a todos os cidadãos?
A questão é melindrosa e a resposta terá sempre uma faceta inexorável de uma certa ambiguidade. Mas, apesar de tudo, entendo que quem desempenha cargos políticos de responsabilidade não tem esse direito. Os políticos em democracia têm responsabilidades acrescidas, não apenas em relação aos seus projectos, às figurações que fazem do bem comum, mas também no que tange às suas próprias pessoas, i. é àquilo que são. Quando analisamos um político não nos importa apenas a sua competência, a sua inteligência e as suas ideias; os aspectos pessoais são fundamentais, também.
Isto não significa existir alguma espécie de incompatibilidade entre a opção homossexual e a possibilidade de se ser um bom político – nada disso. Mas sou forçado a concluir que a perversidade inerente à mentira acerca dessa mesma opção torna um político desqualificado para o desempenho de funções relevantes na decisão pública. Alguém que mente permanentemente acerca daquilo que é, que esconde uma parte significativa da sua vida e de si mesmo, que tenta demonstrar comportamentos que não correspondem à verdade de si, não tem condições para merecer a confiança das pessoas e não preenche os mínimos de carácter exigíveis para o desempenho de cargos políticos de nomeada. Transformou-se a si mesmo num embuste ao fazer da sua vida uma impostura. As características da sociedade contemporânea, ao contrário da opinião mais popularizada, vão no sentido do realce da transparência dos comportamentos e da partilha natural de informações acerca daqueles que escolheram exercer profissões de grande atenção pública e mediatizada, como é o caso dos políticos.
Já este raciocínio não terá qualquer hipótese de aplicação no caso das pessoas cujas vidas pessoais ou profissionais não têm qualquer factor de mediatização obrigatória ou natural. A privacidade da vida de um cidadão comum deverá ser protegida intensamente. Em relação a todas as suas opções de vida, inclusivamente a sua orientação sexual ou a possibilidade de a camuflar de alguma forma – atitude que só respeitará a si e aos que lhe são próximos
Mas um político profissional não é um cidadão comum. Dir-se-á, então, que um político não tem os mesmos direitos - no plano social e até jurídico – que um cidadão comum no que toca à sua vida privada. Por muito que isso possa parecer aberrante a resposta tem de ser não – um político profissional, bem como tantas outras figuras públicas, está de algum modo sujeito a uma capitius diminutio quanto a alguns dos seus direitos. Por exemplo, o de mentir aos eleitores quanto à sua orientação sexual. Mas, não nos esqueçamos, também a opção primeira em ser político é livre e exclusiva do interessado»
.

[negritos meus]

Anónimo | 18:16 | 3 comments

 

segunda-feira, agosto 28, 2006

 

Cuidado, Henrique, estamos tramados

Das profundidades do elaborado pensamento político de Daniel Oliveira, surge mais um comentário fulminante e definitivo. Sim, é verdade, Henrique, eles estão "safos". Nós é que já não poderemos dizer a mesma coisa com tanta certeza.

Paulo Pinto Mascarenhas | 13:19 | 5 comments

 

Atlântico nos jornais

A propósito do Compromisso Portugal, no Correio da Manhã (eu sei que há uns jornalistas de esquerda, até com responsabilidades editoriais, que não gostam nada destas notícias, mas estamos cá para isso mesmo).

Paulo Pinto Mascarenhas | 13:11 | 0 comments

 

Para além da capa

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1
. Para além dos temas de capa nesta última edição da Atlântico (entre os quais um ensaio a não perder de Fernando C. Gabriel), destaque para um artigo de Adolfo Mesquita Nunes em defesa dos casamentos homossexuais. O texto de três longas páginas - e este "três longas páginas" é uma piada dirigida à Alaíde Costa - responde ao que foi escrito por Pedro Picoito na edição de Julho sobre o mesmo assunto mas com posição contrária. Se fosse necessário, aqui está mais uma prova de que o debate faz parte da casa.

2. Nos livros, para além das recensões de Henrique Raposo e Bernardo Pires de Lima, assinalo o regresso de António Araújo à Revista Atlântico, com um texto sobre o livro de Maria Antónia Pires de Almeida, A Revolução no Alentejo, Memória e Trauma da Reforma Agrária em Avis, edição da Imprensa de Ciências Sociais. A não perder.

3. Para além de um artigo de João Vacas sobre a França de Chirac e das colunas de opinião dos habituais líderes de opinião (Rui Ramos, Luciano Amaral, Vasco Rato, Vítor Cunha e João Marques de Almeida); de Paulo Tunhas sobre D. Januário; de João Pereira Coutinho sobre o Ocidente e os islamitas; de Alexandre Soares Silva sobre bondade e bom gosto; chamo a atenção para duas colunas de duas novas entradas: Manuel de Lucena sobre as duas exposições de Picasso em Madrid e Miguel Coutinho sobre o Compromisso Portugal.

PS. Depois de algumas reclamações sobre a "leveza" da última revista de Agosto, espero que agora não se queixem do excesso de peso. Boas leituras.

Paulo Pinto Mascarenhas | 12:38 | 4 comments

 

Quinta-feira nas bancas

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Paulo Pinto Mascarenhas | 02:16 | 4 comments

 

domingo, agosto 27, 2006

 

E para salvaguardar um nome arrastado na lama, pode-se recorrer aos tribunais comuns?


Anónimo | 23:52 | 0 comments

 

Mon Cherie

A propósito da surpreendente nomeação de uma "Fitness Minister", alguém devia avisar Tony Blair de que o que não é saudável é levar para o emprego os problemas domésticos.


Anónimo | 23:44 | 1 comments

 

One Man (Freak) Show

O aconselhamento comunicacional de Manuel Monteiro é uma coisa admirável, certamente feito por profissionais influentes do ramo. Ou, então, acontece a feliz coincidência de, apesar da sua insignificância, ter um ou outro amigo com dificuldade de preencher espaço jornalístico na silly season e de, por essa mesma insignificância, não haver quem ache as tonterias do senhor dignas de comentário (Vasco Pulido Valente, hoje, apenas as expôs ao óbvio ridículo).

Seja como for, Monteiro lá vai desfraldando a sua receita salvífica para a direita, sem contraditório relevante, em meios "de referência" como o Expresso - que há muito lhe dá mais espaço do que o estatuto merece (talvez o amor de ambos a Paulo Portas seja o barro dessa inusitada e duradoura aliança). Em contrapartida, a iniciativa deste fim-de-semana - naturalmente embaraçosa para o próprio - de transtornar as pacatas gentes que se veraneiam em Vila Praia d'Âncora com a sua versão do speaker's corner (que, se tiver corrido bem, se tranformará em freak show ambulante), foi convenientemente escondida - para bem da credibilidade do nosso Manel - por quem lhe deve tratar da comunicação.

Foi pena. Talvez se tivesse percebido o contorcionismo ideológico da sua "direita moderna", nos termos em que vem descrita nos jornais. É que, assim à primeira vista, uma direita que se diz antropologicamente optimista não é direita; e uma direita que se anuncia em cima de uma carrinha de caixa aberta não é moderna.

Anónimo | 23:13 | 0 comments

 

Locutor de continuidade


Hoje, numa TV perto de si, um dos melhores filmes de guerra de sempre. Talvez: um dos melhores filmes de sempre. De certeza: um dos melhores filmes dos últimos 20 anos.


Henrique Raposo | 11:51 | 2 comments

 

sábado, agosto 26, 2006

 

BASTA

Rather than trying to sweet-talk fanatics with dishonorable pieties about The Other and respecting The Other, it is incumbent upon us to affirm unceasing solidarity with all the Thomas Manns of the Muslim world.
Alain Finkielkraut, na DISSENT

1. Outra das consequências do apoio ocidental oferecido a movimentos radicais como o Hezbollah é a seguinte: os reformistas do mundo “islâmico”, que lutam internamente contra o “islamismo”, são desprezados pela agenda ocidental. Os jornalistas ocidentais nunca procuram falar com os reformistas; apenas dão voz aos radicais que dominam as ruas.
E quando se legitima o Hezbollah, está-se a branquear a imbecil tese do choque civilizacional. Fica a impressão que todo o Islão é aquela brigada de fanáticos que gosta de destruir embaixadas.
O apoio que se dá ao Outro, ao não-acidental não é um bem em si mesmo. É apenas um instrumento. O coitadinho do Outro (leia-se: não-branco) é instrumentalizado: é o campo de batalha onde a esquerda relativista tenta degolar a ideia de Ocidente. Ler, a este respeito, um progressista do Líbano (na Open Democracy), que critica a forma como a esquerda europeia instrumentaliza o Outro (neste caso, os libaneses) com o fim único de criticar o ocidente.

2. O texto de Finkielraut (original no Libération) foi escrito na ressaca da polémica dos cartoons. Essa polémica teve um efeito positivo: muita gente aqui na Europa, como Finkielkraut, perante o excesso ridículo da reacção islamita, disse, finalmente, BASTA. Muita gente, perante o fanatismo que não sabe rir, pensou e escreveu: “we have ardently sought peace, and yet it’s time to acknowledge, for all our efforts, that we are encountering determined, formidable enemies". A reacção orquestrada contra os cartoons, até ao momento, foi o grande erro do radicalismo islamita.


Henrique Raposo | 17:16 | 3 comments

 

A brigada do babete


1. Um velho esquerdista europeu afirma, orgulhoso, que comunistas morreram durante a resistência a Israel, lutando, lado a lado, com o Hezbollah. Eis a nova aliança mundial entre totalitários:

One consequence of this has been a serious political engagement by the left with the Muslim communities, united in opposition to war and support of civil liberties. This is also a worldwide alliance. Seven Lebanese Communist fighters died resisting Israel's attack alongside Hizbullah, which has also had the support of the leaders of the Latin American left.
(no Guardian)

Chamem a educadora de infância; e tragam babetes e as rocas. Os velhos esquerdistas regrediram até ao estado infantil. É impossível argumentar com gente que se orgulha de lutar ao lado de terroristas; é impossível falar com gente que afirma defender as liberdades civis em aliança com... o Hezbollah. Isto está além de qualquer razão ou argumento. É um estado de desespero ideológico. Odiar o ocidente (Israel, neste caso) é a única forma de existência ideológica da velha esquerda. Se querem sobreviver enquanto entidade autónoma no espaço político, têm de odiar. O Ódio é a única coisa que ainda garante a unidade, a harmonia entre velhos esquerdistas.

2. Contra esta esquerda emocional, infantil, reaccionária, ler Marko Attila Hoare (um ex-membro deste clube do ódio).

Henrique Raposo | 15:05 | 2 comments

 

Terrorismo: Floribela vence Kant



Quem apresenta justificações compreensivas em relação ao terrorismo, fá-lo de duas maneiras:

1- É a arma dos mais fracos. Dado que não têm Poder, os mais fracos têm a permissão (exclusiva; interdita ao mais forte) para cometer actos terroristas. Qual é o problema deste argumento? O Poder não tem nada a ver com Moral. Um grande Poder não perde a razão ou a moral apenas por ter Poder. O fraco não é justo porque é fraco (distribuição de poder); o fraco poderá ser justo se cometer actos justos (consciência; acto de vontade independente do poder que se tem).
Terrorismo como arma do fraco representa a destruição de qualquer critério moral; destruição provocada por essa coisa mesquinha que dá pelo nome de politicamente correcto. Este novo PC abole a distinção entre Poder e Moral. Para o PC, não interessa qualquer avaliação criteriosa da situação e do comportamento de X. A razão está sempre do lado daquele que tem menos poder. Se X for fraquinho, então, é bonzinho. A moral da telenovela mexicana venceu. Kant e demais chatinhos estejam lá caladinhos.

2 - O terrorista de X é o freedom fighter de Z. Ora, aqui está um dos mais persistentes insultos à inteligência. Esta senha manhosa – que soa bem na TV, junto de um repórter entusiástico – é uma falácia; uma falácia que abole a distinção entre ordens. Neste caso, abole a diferença entre jus ad bellum (causa justa - ou não - para iniciar uma guerra) e jus in bello (a justiça durante a guerra). Uma coisa é a razão que X apresenta para justificar o início das hostilidades. Outra coisa é o comportamento de X depois do início da guerra, isto é, o comportamento de X perante o inimigo e civis.
Um exemplo. Vamos supor que a causa do Hezbollah é justa. Vamos supor que seria justo empurrar os judeus para o mar. Neste caso hipotético, o veredicto das leis da guerra seria este: “OK: podes ir para a guerra, caro Hezbollah; a tua causa é justa”. Mas este OK inicial não justificaria todo e qualquer acto posterior. Mesmo que a causa fosse justa, o Hezbollah cometeria actos terroristas se matasse civis de forma propositada. A justeza da causa, antes da guerra, não justifica a morte propositada de civis, durante a guerra. Uma coisa é o “fim”; outra são os “meios”. E o terrorismo é um meio imoral e injustificado seja qual for a causa, seja qual for o seu fim.
A destruição de Hitler era uma causa justa; mas um pelotão americano, durante a guerra justa contra Hitler, poderia cometer actos terroristas ilegítimos. Seria uma tragédia a julgar, mas a causa não estaria comprometida. Uma coisa é entrar na guerra de forma justa; outra coisa, bem diferente, é o comportamento justo durante essa mesma guerra. O Hezbollah, mesmo que fosse um freedom figther, seria sempre um pulha terrorista.

Mas, num tempo em que a emoção televisiva vence qualquer argumento racional, nada disto interessa. O que interessa são as imagens e a emoção que elas provocam. E, eles, os terroristas sabem bem disso. Por isso, têm realizadores privados a indicar as imagens certas às câmaras ocidentais. Não há civilização mais ingénua que a nossa. Nada de espantoso: quem é que inventou a telenovela?

Henrique Raposo | 14:11 | 2 comments

 

Um terrorista é um terrorista terrorista terrorista


Não há indefinição possível em relação ao termo “terrorista”: um terrorista mata propositadamente, pensadamente, deliberadamente civis com objectivos político-militares. Não estamos a falar de danos colaterais. Estamos a falar de matar civis como objectivo único. Planeia-se matar civis; estes não morrem por acaso; morrem porque a intenção é mesmo matá-los. Não perceber esta distinção, não perceber as diferentes “intenções”, é dar um tiro em qualquer critério moral.

Numa discussão sem tralha ideológica, isso chegaria para resolver o assunto. Mas, para mal dos nossos pecados, vivemos um tempo de histerismo ideológico onde é quase impossível ter uma conversa racional. Há apenas confusão ideológica e emocional que abole qualquer tipo de critério. Há dias, uma diplomata da região do báltico, tendo em conta a situação no Médio Oriente, pergunta: “de que lado V. está?”; ao que respondi “Só uma coisa minha querida: o campeonato do mundo já acabou; isto não é um jogo de soccer”. Quando uma diplomata treinada e formada pensa assim, está tudo dito. As posições políticas, hoje, têm a espessura da cabeça de Zidane.

Henrique Raposo | 13:01 | 1 comments

 

Roca

"Uni-me ao proletariado, pelo balde e pela roca"

João Miguel Tavares

Henrique Raposo | 12:19 | 0 comments

 

O Regresso da Esquerda


A forma como boa parte da esquerda apoia o radicalismo reaccionário islamita deixa qualquer progressista, Marx à cabeça, completamente embaraçado. A esquerda radical actual é a força mais reaccionária e obscurantista do nosso tempo. Os velhos reaças de direita parecem meninos quando comparados com estes “marxistas andrajosos”.

Mas, felizmente (para a qualidade e decência do debate), os verdadeiros progressistas começam a sair da toca. Muita gente de esquerda está literalmente farta da brigada Negri. Tão farta que já escreveu um manifesto; um manifesto progressista contra os obscurantistas que passam por... progressistas. Um manifesto contra uma fraude intelectual. Um manifesto que representa o regresso da esquerda.

Ver EUSTON MANIFESTO, assinado por, entre outros, Michael Walzer, Paul Berman, Kanan Makiya, etc.

Henrique Raposo | 11:51 | 1 comments

 

sexta-feira, agosto 25, 2006

 

Esquerda realmente de esquerda

A esquerda realmente de… esquerda (isto é, progressista) reúne-se contra a esquerda reaccionária que ainda domina. Reúne-se em novas revistas que recusam o relativismo, o multiculturalismo, a culpabilização do Ocidente, a vitimização “Outro”, o marxismo andrajoso, etc. Uma esquerda que não é politicamente correcta.

Uma esquerda que não ostenta uma superioridade moral com pés de barro, uma esquerda com um passado limpo. Uma esquerda que, por isso, será mais mais perigosa para as direitas do que a brigada que berra “morte ao ocidente”; a brigada da manif que critica o Ocidente enquanto continua sentada confortavelmente no centro do sistema… ocidental. Uma esquerda visceralmente hipócrita, portanto. Uma hipocrisia que fica bem no século XXI; uma hipocrisia que serve de capote; capote que esconde o século XX e as lições que nos deixou. Que lições? O século XX representa a negação da velha esquerda que sonhava com um mundo de harmonia, sem conflitos entre os homens. O século XX representa (deveria representar, pelo menos) uma abertura de portas para uma esquerda “liberal”, centrada no indivíduo (não em palavras vagas como Povo) e na noção de que é impossível erradicar o conflito entre os homens. Porquê? Porque se há liberdade, haverá, com certeza, conflito entre diversas concepções de Bem. Liberdade individual implica conflito, tensão. A Igualdade colectiva, sim, implica a harmonia produzida pelo... tirano.

A esquerda liberal retirou uma das conclusões centrais do XX: antes um conflito produzido pela liberdade e gerido por uma constituição do que a tirania harmoniosa resultante da Igualdade. Autores progressistas como Paul Berman, Michael Lind, Jean Bethke Elshtain e, não esquecer, o francês André Glucksmann, entendem isto. São os progressistas do XXI. Aliados hoje; adversários num futuro próximo.

Ver Democratiya (com cerca de um ano)

Ver Democracy, a Journal of Ideas (no primeiro número)

Henrique Raposo | 22:16 | 2 comments

 

Escrita em dia


Artigo essencial do britânico Robert Skidelsky (Hot, Cold & Imperial) na New York Review of Books.

O Mito do império americano serve para encobrir o desconforto; desconforto resultante do seguinte: The world is in transition to new forms of political organization, whose outlines can be dimly perceived, but whose frontiers cannot yet be fixed.

O conservadorismo americano foi tomado de assalto por impulsos idealistas; é na liberal NYRB que encontramos as análises americanas mais sofisticados sobre o nosso tempo.

Henrique Raposo | 14:39 | 0 comments

 

Fraude

O bom pintor, por mais abstracta, minimalista ou conceptual que seja a sua obra, tem de saber desenhar muito bem o básico. Caso contrário, não é bom; é apenas uma fraude.

Eduardo Nogueira Pinto

Henrique Raposo | 13:46 | 0 comments

 

Arte não é moral, II


O que não respeito é que se questione o talento literário de Grass por causa destas recentes revelações políticas. Isso é uma daquelas abominações que se tornaram recorrentes.

Há grandes escritores desonestos, prepotentes, traidores, racistas, soberbos, cobardes, violentos, cruéis, ladrões, mentirosos, crápulas, pedófilos, o diabo a quatro. Lamento, mas nenhum grande escritor deixa de ser grande por causa dos seus defeitos e das suas insuficiências éticas. A cultura, infelizmente, alberga alguns paradoxos dolorosos. Mas a cultura, felizmente, não é uma fogueira. Isso, como talvez se lembrem, era o que faziam os nazis.

Pedro Mexia

Henrique Raposo | 13:40 | 0 comments

 

sexta-feira, agosto 18, 2006

 

Os Leopardos

Não é nada que não soubéssemos já. Mas a evocação do aniversário do nascimento de Marcello Caetano veio lembrar-nos a triste realidade. Grande parte das principais figuras que no pós-25 de Abril se arregimentaram nos partidos da área não socialista/comunista tiveram relações de especial proximidade com o governante. Mais do que familiaridade intelectual, havia, em muitos casos, uma cumplicidade filial de Caetano com gente que era visita de casa e um dia se tornaria central na vida política do país. Ora, esta é uma velha tragédia da democracia portuguesa: a relutância de pessoas importantes "da direita" em se assumirem claramente "de direita", dada a desconfiança com que foram sempre olhados pelo novo regime. Se a democracia portuguesa é ideologicamente desequilibrada, grande parte da culpa cabe a estes "leopardos" desejosos de aceitação. Por isso temos o PSD revolucionário, o centrismo populista de Marcelo Rebelo de Sousa, a disposição anti-americana de Freitas do Amaral ou o internacionalismo nefelibata de Adriano Moreira. Tudo gente adepta do estado paternalista, do "direito internacional", incapaz de qualquer posição polémica que se desvie do discurso de miss mundo em que a política moderna se tornou. É também por isso que a direita confessada que hoje temos está, maioritariamente, fora dos partidos.

Anónimo | 15:08 | 6 comments

 

quinta-feira, agosto 17, 2006

 

Arte não é moral


Primeira fase: Günter Grass foi nazi; não foi apenas um soldado da Wehrmacht. Não. Alistou-se nas SS. Segunda fase: escondeu esse facto enquanto criticava a Alemanha por esta, supostamente, esconder memórias, etc… Moralmente repugnante na primeira. Hipócrita, como poucos, na segunda. O moralista é como o peixe: morre pela boca.

OK. Mas Grass é um escritor. Se os seus dotes criativos de Grass eram elevados antes da revelação, então, continuam a ser elevados depois da revelação. Aliás, adquirem um sentido trágico que antes não tinham.
Dizem-me que Leni Riefenstahl foi nazi. Não me interessa. É das maiores figuras de sempre no cinema. Chega-me. Não quero ser amigo dela; quero apenas ver os seus faraónicos filmes. Dizem-me que Eisenstein pactuou com o estalinismo. E depois? Eisenstein não era político mas cineasta. E um dos melhores de sempre. Dizem-me que Egon Schiele foi pedófilo. Não quero saber. Pintou como ninguém. Não quero que ele cuide dos meus filhos. Quero que pinte.

Moral e arte pertencem a ordens diferentes. Se Grass era um grande escritor, então, continua a sê-lo. Nada vai mudar isso. Mas como para muita gente confunde arte com moral (melhor, como moralismo), uma multidão de almas vai passar a dizer que Grass não presta, quando antes idolatrava o seu trabalho.

Mais do que nunca, devemos ler Sebald.



Henrique Raposo | 19:47 | 5 comments

 

José Sócrates recusa responder a Carlos Coelho (e faz muito bem, há que dizê-lo com frontalidade)



O Governo recusa intromissões do Parlamento Europeu na definição da sua política, nomeadamente no capítulo da defesa e dos negócios estrangeiros. Com base neste princípio, prepara-se para recusar informações aos eurodeputados que investigam "o envolvimento e a cumplicidade" de Estados membros da União Europeia numa série de alegadas actividades ilegais da CIA no Velho Continente a pretexto do combate aos terroristas islâmicos.

Paulo Pinto Mascarenhas | 17:22 | 5 comments

 

Advogado = Sapateiro

Falo com advogado sobre o estado da justiça em Portugal. O indivíduo começa a puxar galões de superioridade. Raciocínio: "como sou advogado, tenho mais legitimidade para falar do assunto". Há aqui uma confusão de ordens. A competência (ordem técnica) não é sinónima de legitimidade (ordem moral e política). Até porque muitas vezes o que é competente pode ser considerado como ilegítimo. Um biólogo não tem mais legitimidade moral do que um sapateiro para decidir sobre a legitimidade moral da clonagem. É uma decisão moral e não técnica. Não é uma questão de possibilidade (é possível ou não fazer X?) mas de legitimidade (é correcto fazer X?). Aqui a mesma coisa: tenho tanta legitimidade para criticar a justiça como um advogado. Os advogados trabalham com a lei, não a criam. Quem cria a legitimidade da lei – mesmo aquela que lida directamente com o sistema jurídico - é o corpo político da nação, todos nós. Não vivemos, segundo sei, numa república de advogados e juízes.

Henrique Raposo | 15:54 | 9 comments

 

Sponville


1. Vida como Tragédia. Não a tragédia da novela mas a Tragédia moral e filosófica. Trágédia porque as "as pessoas se confrontarem com contradições que nunca são capazes de resolver nem de ultrapassar de uma vez por todas"; “o trágico neste sentido é o contrário da dialéctica”, isto é, “não há nenhuma síntese plenamente satisfatória, não há ultrapassagem sem perda … não há reconcilização definitiva e total ... não há vida de completo repouso… o inverso do trágico é o paraíso. O inverso do paraíso é a vida tal como é” (p.117, da edição portuguesa da Inquérito, sem imagem disponível).

2. A história tem o futuro em aberto. Não há qualquer fim de história, seja este fim ultra-liberal ou marxista. A política não existe para fazer os homens felizes. Existe para evitar infelicidade total e colectiva.

3. Lições conservadores de... um liberal de esquerda, outrora marxista utópico.

Henrique Raposo | 14:50 | 2 comments

 

Leninismo e Nazismo de turbante


O islamismo de Khomeini copiou o bolchevismo. Quando criada (e acarinhada pelo amigo Foucault), a República islamista iraniana imitar a URSS: também exportou a sua revolução. O Hezbollah funciona, desde a sua fundação, como uma espécie de Comintern islamita. Ver trabalho de duas historiadores iranianas que deveria merecer tradução em Portugal; aqui se pode ver todas as entranhas “europeias” (nazismo, leninismo) de organizações como o Hezbollah.



Henrique Raposo | 13:48 | 2 comments

 

As causas da coisa

Theodore Dalrymple, a partir de Updike, tenta perceber e explicar a natureza, a causa e as causas do terrorista moderno que mora aqui ao lado, no 2º esq. A impaciência e a preguiça estão entre essas razões. Mais um motivo forte para detestarmos a espécie.


The Terrorists Among Us
Theodore Dalrymple, "City Journal"



vc

vc | 12:18 | 0 comments

 

Para um 2008 de baixo teor neoconservador



ENP

Eduardo | 00:37 | 4 comments

 

E agora é que é mesmo tudo

O sapo e o escorpião, de Pedro Rolo Duarte. A ler.


Paulo Pinto Mascarenhas | 00:04 | 3 comments

 

quarta-feira, agosto 16, 2006

 

Antes que me esqueça



O Ricardo Gross aconselha-a na próxima Atlântico e, como sempre, ou quase, tem razão. Minhas senhoras e meus senhores, Mayra Andrade.

Paulo Pinto Mascarenhas | 23:40 | 1 comments

 

E só mais esta

A propósito de um h pequeno, mas não só, ler estas Coisas.

Paulo Pinto Mascarenhas | 23:38 | 1 comments

 

E através da Bomba

Lembro-me de ir ver como está o velho maradona. Brilhante, de cima abaixo.

Paulo Pinto Mascarenhas | 23:32 | 3 comments

 

Adenda aos meus neocons

Só agora me apercebi que a discussão sobre os neoconservadores atravessa uma parte da blogosfera. A ler, por exemplo, este poste do André Abrantes Amaral, ou este do André Azevedo Alves, ou ainda este, já sobre Israel, do Miguel Castelo-Branco num blogue que não conhecia porque ando distraído, o Combustões.
Aconselho, já que estou com a mão na massa e a acabei de fechar, a leitura da próxima Atlântico, que sai a 31 de Agosto, nomeadamente os artigos sobre o 11 de Setembro, 5 anos depois, do João Marques de Almeida; As guerras da ilha-mundo, do Fernando C. Gabriel; assim como os artigos de opinião do João Pereira Coutinho e do André Azevedo Alves, entre outros, sobre a ameaça terrorista e as suas consequências.
Um ponto em comum em vários artigos na revista e textos na internet, que também é por mim partilhada na minha página no Independente: a existir alguma derrota de Israel ou do Ocidente, ela deve-se à hábil exploração pelos vários extremismos das fraquezas do próprio Ocidente, nomeadamente o facto de ser totalmente permeável à propaganda dos radicalismos. O ovo da serpente continua a crescer e a democracia tem que reforçar as suas defesas.

Paulo Pinto Mascarenhas | 23:04 | 0 comments

 

Definição do bom conservadorismo: "Irish Blood, English Heart"

Sobre conservadorismos velhos e novos, puros e mitigados, entusiásticos e envergonhados, ostensivos e inconfessados, da política ou de disposição, de gente que vai à missa ou de gente que se enrola em bandeiras; e, bem assim, sobre outro tema qualquer de que queiram falar neste Agosto chuvoso, o meu comentário é só um:



Esteve ontem num vale verdejante do Minho. Apareceu acompanhado de cinco amigos de aspecto ambíguo mas todos vestidos de igual, com t-shirts que tinham escrito o nome do líder, dispostos em palco com a precisão estética de Riefenstahl e a harmonia imposta de Albert Speer. Atrás, omnipresente, a imagem gigante de Oscar Wilde.

Individualista, angustiado, de mal com a vida, esteticamente atento, eticamente desiludido. Parem as vossas rotativas. Ele não sabe, mas isto é um conservador.

Anónimo | 22:27 | 1 comments

 

Neo Fascista? Ok.


"...et du populisme néo-fasciste – l'actuelle Caracas..."

in Figaro

Henrique Raposo | 21:48 | 0 comments

 

A grande ameaça: a Globalização não é inevitável

The larger threat involves the great disconnect: Countries are moving closer economically, depending on each other more for trade, raw materials (especially oil) and finance, but they're moving farther apart politically, disagreeing over goals, tactics and values. Historian Niall Ferguson of Harvard has pointed to a similar disconnect, before World War I, when European powers were highly integrated economically and increasingly hostile politically. But there was a chilling disregard for the contradiction. It's a grim analogy that suggests little cause for complacency.

Robert J. Samuelson, Washington Post.


1. É tudo muito actual e mediático, sim senhor, mas a grande ameaça não é mediática. Não é o terrorismo, o Irão, a Coreia, etc. A grande ameaça não tem rosto. A grande ameaça é uma possibilidade futura. A grande ameaça é o hipotético fim da globalização. O grande desafio do nosso tempo é este: renovar a estratégia que sustenta politica e estrategicamente a globalização (globalização: eufemismo económico para uma realidade política - Ordem Liberal Internacional). A globalização não é inevitável. É uma construção política. Durante a primeira globalização, UK e Alemanha eram parceiros económicos de primeira grandeza. Mas esta integração económica não impediu a desagregação política (I Guerra). Pensar que o mesmo não pode acontecer no nosso tempo (com outros protagonistas) é cair na ignorância e no provincianismo do presente.
Andamos todos distraídos com os problemas que aparecem na TV. Mas os grandes problemas nunca se vêem na TV... até ser tarde demais.

Henrique Raposo | 21:31 | 1 comments

 

Recuperar o respeito pela diplomacia


O Eduardo tem razão. Perdeu-se a consideração clássica pela diplomacia. Vivemos um tempo impertinente e precipitado.
Duas facções podem ser representativas desta falta de respeito pela diplomacia.

Primeira: o culto germânico da “política doméstica mundial” (qualquer coisa como Weltinnenpolitik), isto é, os cultos ortodoxos das ONUs e TPIs. Aqui, diz-se que temos de gerir a relação entre estados (política internacional) da mesma forma que um Estado gere as relações entre cidadãos (política interna). Analogia tola de quem pensa a política mundial olhando para o próprio umbigo.
Esta noção representa a anulação da diplomacia, isto é, representa a anulação de um mundo pluralista composto por diversos estados que representam diversas legitimidades. Não esquecer: a diplomacia não é apenas a gestão do Poder; é também a gestão de diversas ideias de bem (legitimidade). O culto da ONU não é pluralista. Apenas reconhece legitimidade a um único pólo – neste caso a ONU ou semelhante coisa. Ou seja, "apenas eu tenho razão. V. são uns bárbaros".
E, depois, este espírito germânico não é político: é legalista/formalista. Não tenta encontrar soluções políticas concretas no terreno. Vive apenas para respeitar lógicas legalistas que se posicionam acima da realidade histórica. As regras – mesmo quando não produzem nada – são mais importantes que a realidade plural das coisas.

Segunda: o inevitável espírito neocon. Estes tipos não aceitam sequer dialogar com estados não democráticos. A diplomacia é um inimigo da democracia, porque ao estabelecer laços diplomáticos com uma ditadura, os EUA conferem legitimidade internacional a esse regime. Inaceitável para estes senhores. Se "Habermas" é formalista, o "neocon" é moralista. Venha o Diabo e escolha. Ambos utópicos. Ambos com pouca sensibilidade política. Ambos um desastre quando estão por cima.
Esta brigada Wolfowitz não fala com a China, porque a China não é democrática. Não importa as consequências dessa intransigência. E a montante desta intransigência utópica encontramos, mais uma vez, a ausência de pluralismo. Querem que tudo seja igual. Não aceitam a pluralidade de opções políticas. Se as pessoas de Singapura não querem uma democracia, eles forçam as ditas pessoas a viver em democracia.
Uma coisa é perceber que o centro da estratégia americana e ocidental deve ser o reforço dos laços entre as democracias de todo o mundo. A estratégia deve ter como centro a aliança entre democracias. Mas isto não quer dizer que se deve negar a existência de ditaduras. A existência de ditaduras é uma realidade que não deve ser transformada (regime change) mas gerida (diplomacia.) O neocon nega estas duas premissas. A sua estratégia não passa pelo reforço da aliança com aliados democráticos. A sua estratégia é só uma: América alone, unbound, against all evil. E simplesmente não aceita a existência de ditaduras, mesmo que não constituam ameaças de segurança.

Henrique Raposo | 19:08 | 2 comments

 

Agora eu sobre os neocons



Eu que nunca fui neocon, estou a ficar seriamente preocupado com o seu súbito desaparecimento. De repente, já ninguém é neoconservador. Mas, apesar de nunca ter sido neocon, apoiei a intervenção no Iraque - não por motivos altruístas ou morais, porque nunca acreditei, como outros, nos "amanhãs que cantam"; nem sequer por causa apenas das armas de destruição massiva, que quase toda a gente, incluindo a Alemanha e a França, mais a ONU, acreditava existirem dado o "bluff" reiterado de Saddam -, mas simplesmente porque entendi que Saddam Hussein estava a contribuir decisivamente para o descrédito das Nações Unidas e das lideranças ocidentais e não se podia deixar que ficasse impune, até pela ameaça que representava para os países vizinhos.

É verdade que as coisas não correram às mil maravilhas, mas gostava que me dissessem qual era a alternativa: deixar o ditador continuar a desafiar o mundo? A diplomacia, essa putativa arma dos conservadores, foi uma das principais responsáveis pelo consequente início da guerra. Gostava ainda que o Eduardo Nogueira Pinto me explicasse o que se pode fazer agora no Iraque, para além de lá ficar e tentar melhorar a situação do país, continuando a atacar o inimigo terrorista. Retirar? Largar os iraquianos à sua sorte?

Outra coisa que me espanta é a comparação fácil entre a intervenção no Iraque e a guerra do Líbano, assunto sobre o qual escreverei aliás esta sexta-feira no Independente. Comparação que é feita no sentido de que a acção de Israel no Líbano "também foi um desastre" e mesmo uma vitória colossal para os terroristas do Hezbollah.

Mas que vitória foi essa? Israel destruiu grande parte das infraestruturas militares do Hezbollhah e conseguiu que um problema que era só seu se internacionalizasse. Ou seja, o Hezbollah e o seu desarmamento passou a ser um problema também do Governo libanês e da comunidade internacional, nomeadamente das Nações Unidas, dos Estados Unidos e, mais importante, da França, co-responsável pela Resolução 1701. Israel precisa de mais "derrotas" como esta. Não ganhou os favores ou a simpatia das opiniões públicas ocidentais? Com isso, os israelitas podem viver bem, porque aliás estão habituados a serem os bodes expiatórios das diversas impotências do mundo ocidental.

Eu, como o Eduardo Nogueira Pinto, também não gosto de generalizações obtusas, mas não aceito que elas sejam feitas em sentido inverso: ou seja, que quem apoiou Washington e Londres no Iraque, ou apoia Israel no Líbano, seja imediatamente catalogado como neoconservador ou, mais simplesmente, como um idiota bushista. Há também quem apoie os aliados - e com toda a honra - por razões concretas, apenas baseado em factos concretos.

Paulo Pinto Mascarenhas | 17:16 | 3 comments

 

Atlântico nos blogues

A lógica da maçã

A melhor notícia do dia está no 24 Horas de hoje. Segundo o tablóide, Jaime Silva, ministro da Agricultura, "encontrou uma forma original de promover um fruto nacional". Então não é que o ministro mais contestado do País se lembrou de pôr uma actriz da série da TVI "Morangos com Açucar" a trincar a fruta para ajudar a Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça? Mais: diz o jornal, citando fonte do gabinete do ministro, que Jaime Silva teve esta brilhante ideia porque o seu filho de 15 anos é fã da série. "O ministro disse-me que era uma boa ideia tentar ver uma forma de meter as maçãs na telenovela. E assim foi", afirma Jorge Soares, um dos dirigentes daquela associação.
Mas o que é isto? Será que alguém perdeu o tino de vez? É por estas e por outras que o sr. Silva é o pior entre os membros do Governo nas sondagens e é o único ministro - até agora- que levou uma reprimenda pública do Presidente da República. "Os atritos entre diferentes responsáveis duram há demasiado tempo", disse o Presidente, num momento de grande agitação entre o ministro da Agricultura e a Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP).
Recomendo ao senhor ministro a leitura do artigo de Maria Filomena Mónica no último número da revista Atlântico. Segundo a investigadora, a série é tão má que representa uma espécie de retrocesso civilizacional. Um regresso à "barbárie".

Nota final: Que fique claro que não tenho nada contra a "moranguita" em causa - Diana Chaves. Bem pelo contrário...

Francisco Almeida Leite, no Corta-Fitas

Paulo Pinto Mascarenhas | 17:13 | 3 comments

 

fim do momento neocon, 3

André,
Rodrigo,

Quando falo do “fim do momento neocon”, refiro-me ao tempo desta administração. Apenas. É mais do que previsível o regresso do neocon. Mais cedo ou mais tarde (mais tarde do que cedo, porque "neocon" transformou-se em palavra demasiado quente entre americanos... não-neocon).

O neocon é, hoje, o guardião de uma das marcas essenciais da cultura política americana: excepcionalismo americano, a ideia de que Washington não é a capital de um projecto político, de uma mera república federal, mas de um reino dos céus destinado a purificar o mundo. Não há política, apenas moral. Boa parte dos americanos pensa assim. O neocon vai voltar. Vai voltar a fazer disparates.

Mas, felizmente, não são eles – estes excepcionalistas – que consagram as grandes estratégias americanas. Nos momentos-chave da história americana, foram os realistas americanos (diferentes da Realpolitik, mas isso é outra conversa) que traçaram a estratégia América (Quincy Adams no XIX, depois da guerra com a Inglaterra; Truman no XX, depois da Guerra com a Alemanha e Japão). Estratégias não da city upon the hill mas de uma república liberal. Hoje, espera-se que Rice faça esse papel. E já há sinais (pouco televisionados) dessa visão estratégica. Há que recuperar o espírito de Hamilton e dos Adams.

André, tens toda a razão: o neocon pode muito bem regressar à esquerda. Aliás, o neocon é de esquerda. Ideologicamente falando. E, no passado, também foi de esquerda do ponto de vista partidário. Saíram do Partido Democrata porque este foi tomado de assalto pela esquerda reaccionária (relativista, multiculturalista, anti-americana, etc.) durante os anos 60 e 70. Foram empurrados para a direita pela vaga da esquerda caviar. Quando a esquerda caviar terminar o seu consulado, os neocon regressarão à base. Não há nada como a nossa casa.

Henrique Raposo | 16:27 | 2 comments

 

Separados à nascença



ENP

Eduardo | 12:33 | 5 comments

 

Novos ares



Alguma coisa está a mudar no mercado editorial português. Scruton, Ferguson, Garton Ash, Berlin, etc. Saúda-se este abrir de portas a outras formas de ver a política. Dá mais equilíbrio e “normalidade” à nossa discussão intelectual.
Afinal, o mundo não começa em Chomsky. E também não acaba em Hobsbawm.
Boa sorte para esta nova geração de editoras: Guerra e Paz, Tinta da China, Aletheia., etc.

Henrique Raposo | 12:19 | 0 comments

 

terça-feira, agosto 15, 2006

 

A doença do multiculturalismo, 2

Essencial este artigo de Kenan Malik, um dos melhores críticos do multiculturalismo e das políticas de identidade, na britânica Prospect.

Aqui fica um excerto que reporta a opinião de outro crítico - Amartya Sen:

The way that British authorities have interpreted multiculturalism has very much undermined individual freedom. A British Muslim is not asked to act within the civil society or the political arena but as a Muslim. His British identity has to be mediated by his community.What policymakers have created in Britain, Sen suggests, is not multiculturalism but "plural monoculturalism.

Henrique Raposo | 23:17 | 0 comments

 

A doença do multiculturalismo

It is clear, therefore, that the multiculturalism beloved of our political and civic bureaucracies has not only failed to deliver peace, but is the partial cause of the present alienation of so many Muslim young people from the society in which they were born, where they have been educated and where they have lived most of their lives. The Cantle Report, in the wake of disturbances in Bradford, pointed out that housing and schools policies that favoured segregation, in the name of cultural integrity and cohesion, have had the unforeseen consequence of alienating the different religious, racial and cultural groups from one another.

Michael Nazir-Ali, Telegraph.

Henrique Raposo | 22:15 | 0 comments

 

Bela esquerda ultramontana

Where is the progress in all of this? If Karl Marx knew that his followers had donned Iranian clerics' robes, he would be turning in his grave.

Hazem Saghieh, jornal Al-Hayat (Londres)

Henrique Raposo | 20:55 | 0 comments

 

fim do momento neocon

Among foreign-policy élites and the broader public alike, it has become the preponderant conviction that George W. Bush’s war of choice in Iraq is a catastrophe.

The neoconservative project of a friendly, democratic Middle East, with Israel and Palestine living side by side in peace, is worse than a charred ruin—it is a flaming inferno.

Hendrik Hertzberg, New Yorker
(Na América, é mais fácil encontrar um realista na esquerda do que na direita)

1. Erro do primeiro mandato de Bush?Pensar que podemos escolher a guerra, como quem escolhe Champô na prateleira. Não escolhemos a guerra; a guerra escolhe-nos.
War of Choice, baseada em coligações ad hoc e no sonho de regime change, não é uma estratégia; é, isso sim, uma fábrica de instabilidade. Mas, para os idealistas neocon, isso não é problema. A estabilidade, dizem, é inimiga do avanço da democracia. Apenas obedecem a valores morais. É fácil ser-se idealista quando se está a milhares de kms e sob a protecção de dois oceanos.

2. Agora, espera-se que os neoconservadores fiquem fora do poder durante a próxima década. Espera-se também que deixem de exercer influência intelectual sobre jovens americanos e sobre aliados demasiado... entusiásticos. Neocon europeu é contradição em termos. Não: é parvoice pegada.

Henrique Raposo | 20:27 | 0 comments

 

Diz não ao neoconservadorismo

No último número da Spectator, Malcolm Rifkind, antigo ministro dos negócios estrangeiros inglês, escreve um artigo notável com um título sábio: The Conservatives must reject neo-Conservatism.

Muito resumidamente, os conservadores devem reconhecer que a invasão do Iraque foi um erro grosseiro; não devem aceitar a divisão maniqueísta do mundo em "bons" e "maus"; e devem rejeitar a doutrina da guerra preventiva.

Em Portugal, país onde parece não haver conservadores, estas coisas são difíceis de entender. Aqueles que, da Direita, criticaram a guerra do Iraque e levantaram dúvidas sobre a eficácia da guerra do Líbano foram: a) empurrados para a extrema-direita, b) empurrados para a esquerda, c) acusados de traição, d) acusados de anti-americanismo, e) acusados de anti-semitismo, f) acusados de serem "amigos dos terroristas", e mais um sem número de barbaridades.

Para as outras direitas - a liberal, a neoconservadora, a nova direita, a que ainda não sabe bem o que é - não basta apoiar as mesmas causas. É preciso caucionar os mesmos procedimentos, seguir os mesmos caminhos e dizer sim às mesmas estratégias, mesmo que sejam as erradas.

É claro que os conservadores gostam da América e apoiam o Estado de Israel. É claro que os conservadores querem combater ferozmente o terrorismo. É claro que os conservadores não querem ficar de fora. Mas há várias formas possíveis de o fazer - de participar, de ser amigo dos amigos, de apoiar os aliados, de combater os inimigos comuns.

Um conservador deve, antes de mais, olhar para a realidade. Apreender a realidade e aprender com ela. E se é verdade que a realidade nos diz que, após o 11 de Setembro, o mundo mudou e está em curso uma guerra contra o terrorismo islâmico, também não deixa de ser verdade que a realidade é rica, vasta e nos ensina muitas outras coisas:

Em primeiro lugar, que a invasão do Iraque foi um erro. Foi inútil (não havia armas de destruição massiva) e perniciosa (emergência do Irão como principal potência local e ameaça global, guerra civil, etc.). Os conservadores devem preservar a credibilidade. Negar o óbvio é tarefa para neoconservadores.

Em segundo lugar, e por mais que às vezes dê a ilusão do contrário, que o mundo não é a preto e branco. Não é possível montar uma estratégia eficaz de combate a ameaças como o terrorismo e o fundamentalismo islâmico com base em divisões simplistas do género "bons e maus", "totalitaristas e democratas", "sensatos e loucos". Pelo meio destas dicotomias, existe um sem número de realidades que é preciso compreender. Nem todos os muçulmanos são "maus", nem todos os ocidentais são "amigos", nem todo o mundo árabe é hostil, nem todos os que pensam de maneira diferente são "estúpidos".

Em terceiro lugar, que a doutrina da "guerra preventiva" ou, nas palavras de Tony Blair, do "intervencionismo liberal", é irrealista e, portanto, disparatada. A guerra deve ser feita para combater ameaças sérias e actuais, e nunca para defesa de ameaças presumíveis ou hipotéticas. Para isso existe a diplomacia.

Para um conservador, a diplomacia é a principal via de entendimento dos Estados. Não a diplomacia da "comunidade internacional", personificada na ONU, que já deu provas de servir para pouco. Mas a diplomacia dos Estados, a grande diplomacia, feita por diplomatas informados, com capacidade de dissuasão e facilidade de diálogo, firmes na rejeição de conversar com terroristas, mas sem medo e preconceito de se sentarem à mesa das negociações com outros Estados soberanos e independentes, ainda que inimigos.

O conservador deve privilegiar a diplomacia, exactamente porque, não sendo um pacifista, sabe que, como último recurso, se a diplomacia falhar, há sempre a guerra.


Eduardo Nogueira Pinto

Eduardo | 19:30 | 6 comments

 

Erros, clichés e perigos do “PAN-europeísmo”


- Não há qualquer Homem Europeu. É uma ficção a fazer lembrar o velho nacionalismo que inventou o homem alemão, o homem francês, etc.

- Arrogância aristocrática europeia que se distancia não só dos EUA como também de todos os outros centros democráticos do mundo. A Europa é vista como única, excepcional, defensora do humanismo, contra a barbárie asiática e americana.

- A tentação de definir a Europa como a não-América.

- A impaciência elitista perante os povos europeus que tardam em aceitar a verdade veiculada por iluminados como Villepin...

- Vício centralista: a globalização tem de ser controlada por centros mundiais (TPI, Kyoto). A legitimidade deve ter apenas uma origem. Em anexo, a ideia de consciência mundial; consciência mundial, claro, liderada e gerida por fóruns europeus. “Pluralismo”? Que é isso?

- Infantil apreciação geopolítica. Divide-se o mundo em simples blocos regionais. Ásia, América, Europa. Em pleno século XXI, o único critério é o geográfico!! Ignora-se o essencial: ligações culturais e políticas. A “Ásia” não é uma entidade política. A China não é a Índia ou o Japão. O mundo dividir-se-á não por áreas geográficas mas por regimes políticos.

Henrique Raposo | 14:32 | 4 comments

 

segunda-feira, agosto 14, 2006

 

Ele há um marxista onde menos se espera

Para tirar dúvidas, dou por mim a ler as letras das músicas da Floribella: “pobres dos ricos, que tanto têm/p´ra que é que serve tanto dinheiro?/vivem com medo de perder algo/ muita arrogância e muita ganância”.

Eles os ricos. Eles os ganaciosos. Nós os pobres. Nós os bons. A luta de classes continua e a popular telenovela tem qualquer coisa de sonho socialista, por oposição ao sonho americano. Esqueçam a revolução armada que vem aí a perigosa revolução colorida. Floribella é uma criada pobre que “não tem nada”. Acaba a série a dormir na cama do patrão e a tratá-lo por tu. É justo. RMD

Anónimo | 20:27 | 6 comments

 

Há turcos e turcos


Turquia na Europa? Não me interessa saber de religião ou geografia. Interessa-me, antes, aquilatar da relação entre militares e política. Que não é ainda clara.
E interessa-me também perceber que a Turquia não tem (ainda) uma sociedade civil completamente livre de ameaças… penais. Escritores (ex. Elif Shafak, foto) são processados por afirmar que o genocídio arménio não é (foi) ficção. Perdão: são processados por colocar personagens arménias a mencionar a palavra genocídio em simples romances… O código penal turco tem como base do código penal de Mussolini. Não perdoa nem a ficção.
Caros turcos, se não entrarem na UE, não será por causa da religião ou geografia.

Henrique Raposo | 20:23 | 2 comments

 

Espelho americano

In its search for moral clarity, the Bush administration has divided the Middle East into good guys and bad guys, with the United States, Israel and conservative Muslim regimes on one side, and Iran, Syria, Hamas and Hezbollah on the other.

In both Bosnia and Afghanistan, American aims may have been morally unambiguous, but Washington's choice of interlocutors was distinctly pragmatic. The more unhelpful the regime, the more morally repugnant its leadership, the more important it was to bring them to the negotiating table.
James Dobbins

Uma coisa é apresentar uma política externa com princípios políticos; princípios que se adaptam às diversas realidades (culturais, de distribuição de poder, etc). Há valores absolutos mas também há um valor relativo: respeito pela realidade.
Outra coisa é engendrar com uma política externa moralista e ideológica, que divide o mundo em preto e branco; moralmente inflexível, nunca se adaptando à realidade. Esta corrente continua (e continuará) forte em Washington. E é este o maior problema americano, quando o assunto é política externa. Para esta gente límpida e idealista, a América apenas deve respeito a valores morais abstractos (nem sequer são regras políticas); respeitar a realidade, a estabilidade, os aliados, os rivais, enfim, a realidade política que está além das costas americanas não faz sentido. O mundo serve de espelho onde muitos projectam a superioridade moral americana.
Clareza moral usa-se em casa, não na arena política.

Henrique Raposo | 11:18 | 0 comments

 

domingo, agosto 13, 2006

 

E nós os monárquicos é que somos conservadores?


Com o mundo em guerra e o país a arder, o nosso presidente que já não não dava Cavaco há um mês, resolveu tranquilizar a nação. Era vê-lo no sábado finalmente nas televisões. Do Líbano ou dos incêndios nem uma palavra, mas os portuueses podem estar confiantes no futuro que, segundo Cavaco Silva, o espectáculo de Joaquin Cortez foi “muitíssimo bom”.
Enfim, uma presidência na mesma linha dos seus antecessores.

Rodrigo Moita de Deus

PS: Cavaco Silva é sem dúvida um fora de série. Nem eu, que era um optimista quanto à sua eleição, julguei que levasse tão pouco tempo para aprender a “presidir”

Anónimo | 23:44 | 3 comments

 

Ódio

Grass now says that, although he had told the truth to his wife, those he deceived included his own children and his biographer Michael Jürgs, with whom he spent countless hours apparently going over the minutiae of his life in the latter years of the Third Reich. Jürgs told The Sunday Times yesterday: “I’m deeply disappointed. If he had come clean earlier and said he was in the SS at 17 no one would have cared, but now it puts in doubt from a moral point of view anything he has ever told us.”
Times

1.Estou curioso: que desculpas esfarrapadas serão inventadas pela velha esquerda para proteger este velho esquerdista?

2.Se não me engano, nos anos 70, um dos líderes do radicalismo esquerdista na Alemanha afirmou que, no passado, defendera a causa nazi. Razão? Depois da queda do fascismo, apenas o radicalismo esquerdista permitia a luta contra a democracia burguesa. O revolucionário, de esquerda ou de direita, define-se pelo ódio que lança sobre a impura democracia burguesa.

3.Hoje em dia, temos jovens esquerdistas ocidentais que se convertem ao Islão. Apenas o Islão dá luta ao imperialismo americano, dizem.

Henrique Raposo | 14:40 | 4 comments

 

Para perceber o silêncio de Günter Grass


Henrique Raposo | 14:31 | 1 comments

 

A palavra do verão: Proporcionalidade

How do we fairly define a doctrine of proportionality in a war between one side that fires rockets from populated areas at civilians for the purpose of terrorizing a population — and the other side that must choose if and when to risk killing innocents being used as human shields by the attackers?

William Safire

Henrique Raposo | 13:11 | 3 comments

 


EDIÇÃO Nº 25

ABRIL 2007

...

A NOSSA REVOLUÇÃO DE ABRIL - A SÉRIO E A BRINCAR
por RUI RAMOS E 31 DA ARMADA

O MAIS IMPORTANTE AINDA ESTÁ POR FAZER!
por ANTÓNIO CARRAPATOSO

A VELHA EUROPA E A NOVA INTEGRAÇÃO EUROPEIA
por VÍTOR MARTINS

DOIS ANOS DEPOIS
por JOÃO MARQUES DE ALMEIDA, LUCIANO AMARAL e PAULO PINTO MASCARENHAS

COMO O ESTADO MATOU O COZINHEIRO ALEMÃO
por PAULO BARRIGA

O PACTO
por PEDRO BOUCHERIE MENDES

ERC

Inquérito Atlântico

Sem inquérito neste momento

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Rádio Europa

Descubra as Diferenças»

Um programa de opinião livre e contraditório onde o politicamente correcto é corrido a 4 vozes e nenhuma figura é poupada.

Com a (i)moderação de Antonieta Lopes da Costa e a presença permanente de Paulo Pinto Mascarenhas. Sexta às 19h10.

Com repetição Domingo às 11h00 e às 19h00.

 

Em Destaque

PORTUGAL PROFUNDO

O INOMINÁVEL

JAZZA-ME MUITO

 

Ligações Atlânticas

19 meses depois

31 da Armada

A Arte da Fuga

A Causa Foi Modificada

A Cooperativa

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A Esquina do Rio

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