Bruckner, Levy, Glucksmann
1. Pascal Bruckner. André Glucksmann. E até mesmo Bernard-Hénri Levy. Três autores que descubro com enorme prazer. E proveito. Há nos franceses de espírito livre (aqueles que não se sentem obrigados a ser desta ou daquela tribo) uma coisa que raramente encontramos nos autores do mundo inglês: a recusa total do politicamente correcto – essa doença americana. Por outras palavras, não têm papas na língua, não se deixam aprisionar com a chantagem do “racismo” e demais armadilhas. Respiram liberdade. Soltos.
Dizem-me que foram fundamentais há 30 anos na crítica ao comunismo. Saíram da esquerda, revoltaram-se. Daí o título de nouvelle philosophes. Hoje, repetem a dose. Se ajudaram a destruir o marxismo, hoje também ajudam, e muito, no confronto com os substitutos do marxismo: o anti-americanismo, o multiculturalismo.
2. O multiculturalismo, não se sabe bem porquê, passa por progressista. Disparate de todo o tamanho. Não há nada mais romântico – no sentido político – e reaccionário do que o multiculturalismo. É o nacionalismo das minorias. Esta doutrina amada pela esquerda é o ressurgimento do movimento político romântico (XIX, XX) que insistia na identidade de sangue e cultura contra as ideias progressistas/universalistas do Iluminismo. Se alguém é de esquerda/progressista e, simultaneamente, concorda com o multiculturalismo, das duas uma: não sabe o que é a esquerda; é da velha direita sem o saber. Há uma terceira hipótese: é uma fraude.
Multiculturalism: Nationalism of the Minorities, Pascal Bruckner.
3. O problema do anti-americanismo é que critica aquilo que a América tem de positivo: um pluralismo guerreiro (que não permite que qualquer utopia, religiosa ou política, controle em absoluto), o único projecto político totalmente baseado na lei e não no sangue ou cultura monolítica. A América é odiada porque representa aquilo que restou da modernidade política dos séculos XVIII, XIX e XX. Os fanáticos religiosos e da cultura não perdoam essa modernidade legal que usurpa a comunidade, deus e afins. A outra modernidade, a marxista, a derrotada, não perdoa, claro, o sucesso da modernidade liberal americana.
Anti-Americanism in the Old Europe, Bernard-Hénri Levy
Henrique Raposo | 22:52 | 1 comments